Feriado
Eu me desperto com a chuva
Tão simples e grande como o meu desejo
Um ré menor num violão reverberado pode ser tão mais que um dia inteiro...
Eu não vivo nas calçadas cheias, vivo nas montanhas
Pelo menos é assim que me vejo
Porque basta um vento pra me deslocar inteira
E algumas palavras de poeta pra me descansar angústias
E um som vindo de longe que de repente está dentro de mim
Porque quero viver nas entrelinhas, nos ritornelos todos do meu mundo
Se não sei como dizer, que posso fazer?
Que posso fazer, eu que não sei como dizer que amo?
Eu que às vezes não sei como abraçar, e quase sempre é só o que quero
Eu que fujo das comemorações
Eu que não sei ouvir as músicas que não quero ouvir
E desejo sempre o silêncio ou um som que conecta
Eu que não sei me conectar sem que seja do meu jeito um tanto calado
Posso eu querer do mundo o mundo, se nem sei como vivê-lo?
Se transbordam de mim estranhas nebulosas circulares
E orquídeas crescem pelos meus pés
Me enovelando toda de paixão pelo que não sei
E corro em direção ao sol como se fosse um bicho saindo da toca
E aquelas flores que se movem toda manhã e todo fim de tarde
Posso assim querer?
Posso assim ter o direito de sofrer por tudo isso e ainda assim querer sempre que tudo isso possa retornar a todo instante?
Desejo que o que não seja isso retorne também?
Quem sabe, porque me fazem ser o que sou
Um corpo que cai no vazio a toda hora e busca sempre o barulho do mar