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Mostrando postagens de 2008

beleza pura

Todos os dias se trabalha Todos os dias se bebe a cervejinha Pra esquecer que, todos os dias, não se vive E as golas das camisas vão assim denunciando o teatro Muito alinhadas, combinam com as olheiras, Muito bem delineadas Porque fracasso é algo que não se pode assumir É preciso muita maquiagem As pastas, de tão cheias, quase falam dos fardos que transportam E as bolsas nos parecem organismos envenenados Carregando todo tipo de pílulas e aparelhos da felicidade Enquanto isso a inflação é notícia, a crise se alastra, As mulheres escovam os cabelos Mas que mal há nisso? Afinal, somos seres sociáveis, Precisamos nos preocupar com nossa imagem E a crise é apenas contingencial Os cintos vão bem... Apertando os ventres cultivados com uma indiferença fascinante Os saltos, esses sim, sabem com é viver Sustentando essas verdades de bonecas barbies E, assim, apodrece vida todo dia no estômago do sedentário Aquele pra quem tanto faz como tanto fez Conhece? Vidas que ele nã

rosa dos ventos

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navegam sempre em cada corpo um barco que se resigna e outro que reluz e solta as velas no vento tenho navegado em busca desses ventos... onde estão? mareando a cada dia, entre o nascer e o pôr do sol é por isso que quando a vida se apequena eu corro para o mar porque tem um mar dentro de cada um de nós e fico estirada na pedra por instantes em que só há o agora e tudo ganha um novo colorido e toma novos rumos é também por isso que não me canso de reverenciar essa força nebulosa o mar é mais que a água que desforma o planeta e encanta marinheiros é onde tudo deságua e de onde tudo vem porque tudo um dia chega no mar e se não chega, é ele quem vai de encontro o mar não é tão somente a morada de seres reluzentes e de uma alucinante profusão de cores e, mais abaixo, do silêncio ancestral é também uma condição ser mar é ser uma força que não se resigna sabendo o momento de causar tempestades e se acalmar é terra, e entra nela por todos os lados a fecunda e a tr

Alice desesperada

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Antes que a dor se esqueça, quero chegar ao topo da montanha... É preciso correr para não sair do lugar! Antes que a vontade adormeça a possibilidade da toca... Beba-me! Coma-me! ...Imagine fazer mesura quando se está despencando no ar... Antes que o espelho se transforme em porta Antes que o fumo da lagarta se acabe e mil chapeleiros me sirvam mil chás Antes que se embaralhem as cartas Antes do nascer dos porcos e do cantar das morsas Antes que o ovo me reconheça... Ah, antes ainda que o sorriso do gato desapareça Antes que se cortem as cabeças! Beba-me! Coma-me! ...Imagine fazer mesura quando se está despencando no ar... Ah, é o amor! É o amor que faz o mundo girar!

Bio e micropolíticas

Nesses últimos dias discuti com meus alunos a idéia de biopolítica como a lógica do estado, de que forma aquilo que Guattari chama de produção de subjetividade capitalística atualiza a biopolítica hoje, e como micropolíticas podem ser práticas efetivas de nos colocarmos como criadores e protagonistas, invertendo a lógica de que o macro (Estado, leis, corporações etc) é a voz que define as necessidades e, assim, ações de intervenção, sejam elas no âmbito social, educacional, da saúde, dos julgamentos etc. Cada turma reagiu de uma forma e enriqueceu a discussão. Porém nenhuma passou sem reagir, o que foi ótimo, pois a aula fica mais intensa e interessante para os dois lados. Muitos questionamentos surgiram na minha cabeça, inclusive de um aluno que questionou até que ponto o meu vegetarianismo não foi capturado por essa subjetividade dominante e se coloca reproduzindo velhas hierarquias e vícios que estão enraizados na nossa sociedade. Algo a se pensar. Ele tem razão ao afirmar que essa

Poesia ingênua

Basta apenas um sorriso E meu mundo se abre em flor Basta um som rasgado Uma voz apaixonada Basta um suor de desejo E um fôlego sem fim Uma luminosidade cara Uma insanidade rara Bastam os acordes E as harmonias de um dia de sol As chuvas de verão Os sonhos de calor Os filmes que eu não vi Os beijos que virão E bastam os abraços Os corpos que se encontram Os olhares que aprofundam As forças que juntas se consomem E então um grito ecoa no ar E me diz que na vida Embora existam as saudades Tudo tem fim na alegria Que nos jardins de rosas Todas as dores se transformam Em luzes que se espalham pelo céu Que lá fora há um sol gritando por nós E um planeta que não se cansa de amar E uma vida que nasce Intensamente a todo instante Como a cada instante nascem e morrem Astros por todo o universo Como a cada instante damos a luz A tudo aquilo que fazemos E a tudo o que o desejo Conduz e transforma em concretude

Produção cultural

Alunos lá da Faculdade (pra quem não sabe sou professora substituta de planejamento cultural no curso de produção cultural da UFF) pediram para eu escrever um texto para os calouros e para o manual que eles fizeram sobre o curso. Bem legal isso. Estão voltando as boas iniciativas alunescas lá na procult. Fizemos um debate de ex-alunos essa semana e foi bem legal relembrar um monte de coisas. Reproduzo o texto abaixo. Não sei o que acho dele. As vezes gosto, as vezes não. Acredito que o ofício de produtor cultural é um dos mais abrangentes, porém um dos mais fascinantes e, ao mesmo tempo, mais perigosos que existem, porque podemos ser criadores e mediadores de desejos e políticas. Assim, cabe a nós, que nos intitulamos produtores, trilhar os caminhos onde queremos atuar. Aqui vale uma reflexão: até que ponto é um produtor cultural aquele que colabora, hoje, na manutenção de instituições e padrões culturais da megamáquina de produção de subjetividade capitalística, para usar uma e