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Mostrando postagens de setembro, 2013

música nova

se eu fizesse uma música agora teria, ela, cheiro de futuro e uma única saudade a que ainda está por vir se eu fizesse uma música agora seria calma, alta e misteriosa e voaria sobre os Alpes seria música nova incabível no passado solitária e silenciosa e não haveria qualquer nota como se o corpo reconhecesse apenas pulso nesse instante se eu fizesse uma música agora... ela não seria minha, do que ainda reconheço mas de quem não sei quem sou e criaria a própria música como se fosse a música primeira que criou a humanidade se eu fizesse uma música agora eu sequer saberia que era minha ela teria cheiro de começo e me revelaria o estranhamento que hoje sou se eu fizesse uma música agora seria a própria música cósmica a voz de Deus a ecoar sobre o vazio e não apenas seria música nova que nasceria rasgando, indisfarçável ela seria, antes, nesse momento doloroso e mágico, intocável

através do espelho

maldito espelho o outro maldita palavra alheia que me revela e rasga minha veia saturada de passado a metamorfose não é bela pode-se morrer nela e se perder, para sempre, lagarta no casulo é doloroso fazer nascer um corpo novo quando já se está tão conformado no existente no entanto, há êxtase em perceber onde se conforma e já, deforma maldito espelho que é o outro maravilhoso que me revela onde falho tanto quanto onde encaixo bendito espelho cristalino como música barroca eleva o espírito e me lança no abismo maldito espelho que revela minha fraqueza bendito seja!

ativa espera

a palavra me salva me amarra a palavra aperta o amor desperta busco a palavra certa como busco o amor liberto e é na sua agudeza que me embebedo de beleza como se casco de árvore eu fosse e escorresse feito seiva doce e derretesse, amálgama do objeto e explodisse, expansão do incerto a palavra pouca o amor que é verbo amor que se tem certo mas parece não ter cumprido ainda sua caminhada no deserto ando tateando a procura do verso mais profundo... e me desloco de encontro, em desejo quem sabe esteja ele a minha frente e ainda não vejo pois sinto uma brisa... mas não sei ao certo o que ela diz sobre a vida sei que traz auroras e me responde certas inquietudes do agora e, assim, tateando, talvez encontrem, minhas mãos, em suave conflito, a textura do infinito e a palavra certa! tanto quanto o amor que liberta como música exata, ou poesia, que esperaria o tempo que fosse pra nascer e nasceria

Poema alado

lanço flores para ressaltar a beleza das rotas dos encontros e expressar a delicadeza necessária em tempos cansados do planeta lanço-as para dar leveza a pesos desnecessários a vida é foda mas é fácil e me pisca o olho de um deus na cumplicidade de uma certeza: o que vem do coração jamais pode estar errado o que se faz com amor é sempre um poema alado

Poemas de aeroporto

Sexta, aeroporto Santos Dumont então, fez-se luz! e, logo depois, verbo! e Deus criou o homem e a mulher. e criou o paraíso, onde plantou sonhos, música e delírio. e fez-se o tempo. e homem e mulher passaram a ter razão para viver o paraíso ao máximo! mas o homem inventou o trabalho... Deus, refletindo o por quê daquele ato, até achou que alguns trabalhos valiam a pena... em tempo, não pensou duas vezes: para ajudar homem e mulher, sendo camarada e gente fina, eis que Deus criou, então, a cafeína! --- o mundo, esse ovo curioso e fecundo a vida, essa coisa doida varrida --- no instante seguinte em que lanço a palavra, dela já me desapego não a nego mas ela sai como escarro ou beijo e assim, lançada no mundo, de mim, torna-se apenas lampejo a palavra só tem peso se a quisermos desejo