Olhos de poeta

Ainda que me conheçam provável
Isolada numa sala
Sábia ou desinformada
Tenho mesmo é olhos de poeta
Quando chego a um novo sítio
Ou percebo um sorriso que ainda
Não havia percebido

Tenho olhos de poeta se me percebo
A amar os portos e as ilhas tanto quanto
O caminho livre e apavorante do mar sem fim
E quando exploro montanhas íngremes
Em busca de nada mais que o silêncio em mim

Assim também os tenho quando desejo uma casa
Com a mesma louca intensidade que as estradas
E se me deparo com o amor
Nascendo na entressafra

Quando vejo o que nunca antes tinha visto
Minha poeta se torna criança
Ou, por ser criança, é que assim vê
Tenho olhos de poeta
Quando reparo, que de repente,
Acende em mim uma luz inesperada

A todo instante acontece o improvável
Apenas os poetas de alma
- nem sempre os de palavra –
Veneram sua chegada e o recebem
Com flores e beijos na entrada

Quem me conhece assim, tão calada
Ou falando demais inúteis coisas
É porque desconsidera a alma
Que maior que o próprio universo
Salta longas distâncias
E enxerga além do verbo

Tenho olhos de poeta
E isso me basta

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