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Mostrando postagens de junho, 2013

um ano depois...

Escrever é um vicio terrível, daqueles quase incontroláveis, químicos. Dá trabalho, cansa, me faz dormir tarde demais (porque quando começo só consigo parar quando sinto que o texto, como uma gestalt, se fechou...). Mas eu não sei viver sem... Porque é também a minha forma de digerir e processar as coisas. Sempre que o cotidiano fica denso demais, é escrevendo que consigo ficar mais leve. Pois bem, o momento agora é um desses momentos densos. E eu, como de praxe, também uso os textos como confissões e pedidos de ajuda, uma forma de afirmar para o meu ego de ascendente leonino que sou humana demasiado humana e pedir uma ajuda ao universo. Fico impressionada em perceber como as coisas acontecem rápido na minha vida. Tudo muda o tempo todo. Claro que há os momentos de calmaria, ou eu não aguentaria. E quando falo de mudanças, não se trata de mudanças radicais o tempo inteiro, mas daquele permanente movimento que te faz mudar de perspectiva sobre os fatos por conta de pequenos (e nada
o corpo nada sabe das palavras ele apenas vive... como cheiro, gesto, carne mas escrevo versos para criar realidade vive, no corpo, a palavra poética ganha a palavra, no corpo, métrica

novos poemas encontrados num caderno

o estranhamento no espelho nessa hora da madrugada não houve sono posso dizer que não houve nada estranhamento de si... do meu rosto, que tanto reconheço no silêncio e houve tanto barulho essa madrugada... mas que importa o sono que importa o sonho... queria eu apenas o gosto da calmaria no meu coração sem dono mas sou sempre caos e no caos me reconheço? não... eu sou silêncio e na solidão me reconheço no amanhecer do sono pouco, na garrafa de vinho, o gosto... no espelho o questionamento enquanto uns dormem outros festejam sou silêncio e me deparo com o meu tempo e interrogo o meu desejo no fundo, só temos a nós mesmos e por mais alegria que seja toda gente que por minha vida passa e mesmo com o mar onde a conversa nunca é rasa... é por isso que é preciso ir a ele pois é nele que me reconheço é por isso que é preciso degustar o vinho sempre pois no vinho me reconheço presente e no silêncio novamente apenas com a música interior e não aquela dessa noite de sono tão pouco de acordes tã

filosofia corpórea

eis um mistério: o que fazer com o corpo e aquilo que nele nasce após um acontecimento o que fazer com o que fica dentro parte nova a integrar o corpo, que, pelo que se deu, torna-se novo o que fazer com o corpo... tomado ele de torpor e encantamento? e de tudo que vem com o tempo o que fazer com o corpo depois do acontecido, e com o volume que lhe toma, e até então, lhe era desconhecido o que fazer com a densidade de uma nova informação? e tudo o que não se sabe e o que se deseja de um encontro e toda a densidade do outro que lhe soprou o outono... mas muda o corpo a todo instante posto que é errante é preciso acostumar-se ao novo e ao estômago do mundo onde nos lança cada acontecimento profundo.

blackbird

que nome eu poderia ter agora? pergunto a mim mesma diante do espelho das horas eu... uma gama de histórias ainda não contadas poemas guardados que precisam de tempo para serem revelados a multiplicidade do desejo e um desejo que confunde o que eu vejo a ansiedade de querer, com os braços, envolver o mundo inteiro mas é que agora, caiu a moldura chegou a hora das batalhas mais duras: as de enfrentar os grandes medos porém, calma estou porque já os conheço e é preciso coragem para se olhar no espelho calma estou para iniciar o que deve ser feito é preciso foco, ar, é preciso jeito disciplina é liberdade eu ouvi há muitos anos e guardei como mantra na caixa daquilo que não explicamos apenas voando é que sabemos que ela existe, a liberdade, e que insiste sou então, nesta hora, um pássaro que deixou a gaiola no eterno retorno de romper e me reconstruir na aurora novamente identificando minha delicadeza que recupero depois de tanta fina dureza

canto

fez-se calma minha ansiedade que à luz palpitava fez-se silêncio, então, o que sedento pulsava fez-se o tempo... aquietou-se o campo esplendorou-se o vento atravessei flores a tomar chá de jasmim, pensava e busquei, dentro de mim, a harmonia do mundo que dançava atravessei pilotis senti aquecer, o sol, meu rosto e cruzei imensas estradas encarando o meu desgosto havia fome, frio, poço havia... arco para cruzar debaixo sem saber o que haveria, oposto se fundo ou raso mas revelou, caminho novo, o fim da estrada cheiro de incenso raro e novos livros foram postos abrindo segredos nas minhas mãos novas folhas de papel em branco novas tintas, novos tons e veio, ela, a voz luzente a espalhar semente que emociona multiplicando em cada célula do meu corpo o canto alegria inefável que cala todo o meu pranto

aceito

aceito dica de bolo filosofia pra queimar o miolo uma taça de vinho um caliente carinho banho de chuva mesmo no frio loucura na rua poesia sem rima aceito um doce um sonho um sentido uma música nova um novo vestido flores, festas, cervejas gente que ama comida na mesa projeto de vida projeto de um dia criança na praça domingo preguiça aceito tristeza pra lembrar da alegria mas aceito alegria pra ganhar o dia aceito nesse frio, um cafuné aquele pé pra esquentar meu pé um filme qualquer só pra ficar de bobeira aceito quem me diga como se faz uma cadeira só porque não sei fazer sou dessas aceito viver