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carne

um dia não basta pra que seja carne a não ser quando a carne se anuncia com pressa porque também um dia pode mudar a vida e fazer tatuagem sem pedir permissão

Feriado

Eu me desperto com a chuva Tão simples e grande como o meu desejo Um ré menor num violão reverberado pode ser tão mais que um dia inteiro... Eu não vivo nas calçadas cheias, vivo nas montanhas Pelo menos é assim que me vejo Porque basta um vento pra me deslocar inteira E algumas palavras de poeta pra me descansar angústias E um som vindo de longe que de repente está dentro de mim Porque quero viver nas entrelinhas, nos ritornelos todos do meu mundo Se não sei como dizer, que posso fazer? Que posso fazer, eu que não sei como dizer que amo? Eu que às vezes não sei como abraçar, e quase sempre é só o que quero Eu que fujo das comemorações Eu que não sei ouvir as músicas que não quero ouvir E desejo sempre o silêncio ou um som que conecta Eu que não sei me conectar sem que seja do meu jeito um tanto calado Posso eu querer do mundo o mundo, se nem sei como vivê-lo? Se transbordam de mim estranhas nebulosas circulares E orquídeas crescem pelos meus pés

Poesia circular

1 ...Porque pairava sobre os meus olhos como estrela reluzente. Nua estava a vida quando a encarei E me sorria bem de perto Tombando aos montes como quem fere e quer vingança. Porque calava, e isso nada tem de trivial, Causava e descontornava o sonho E sempre retornava Ela, que viajava pelo tempo... 2 Eu disse que sim Bem sem pensar o por quê Sem saber do ar Eu disse que era meu Mas não era, e eu sabia Porque nada pode sê-lo Sempre soube que não se pode ter Porque tudo é só do mundo, do infinito E do próprio tudo, si mesmo Mas, ainda assim...

novas pílulas pra dormir

O tempo mais longo... é aquele em que precisamos suportar que passe --- Início da primavera Comprei um girassol para comemorar Ele morreu três dias depois... Eu já deveria saber Que não se pode prender num vaso a exuberância --- Pra onde vão todos com tanta pressa? Será que há algum grande evento e eu não estou sabendo? --- Vivo uma nuvem! Uma faca me dilacera por dentro, onde sou É que, de repente, cansei de ser gente

Medusa

Imagem
Eu estou fluindo Sou líquida e fumaça E a lua me assiste Aplaudindo minha dança Mole e lânguida de tartaruga magra Existe um mundo rosa no céu Quando giro meu pescoço e vejo a luz E uma espuma tão branca A que furam os pássaros Que passam por elas, entre elas Pássaros que nadam no céu Abaixo nuvens quebrando na praia E eu dançando Retorcendo de saudade Fluida intensidade Com a necessidade de sólido Mordo a montanha doce E caio de boca na areia Saio me esgueirando pelas pedras E sinto rachar os pés Sangrar o casco Sinto mais ainda Que sou aquilo que não entendo Porque quero ser marisco Mas sou medusa que flutua

insônia

Não durmo, nem espero dormir.  Nem na morte espero dormir.  Espera-me uma insônia da largura dos astros,  E um bocejo inútil do comprimento do mundo. Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,  Não posso escrever quando acordo de noite,  Não posso pensar quando acordo de noite —  Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite! Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer! Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,  E o meu sentimento é um pensamento vazio.  Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam  — Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;  Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam  — Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;  Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,  E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo. Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.  Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.  Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.  Um grande silêncio apavo

considerações dominicais

prefiro acreditar que não sou nada nem ninguém só assim posso ser tudo! ---- tenho muitos a priori eles precisam morrer --- é preciso amar o tempo para dele não sermos marionetes é preciso amar o tempo! o que foi, o que é, o que será --- me disse Pessoa: para viver a dois, antes é necessário ser um! --- me disse Moska: navegar só se for por paixão!

Domingo

domingo de tarde estou sozinha como uma macarronada nada mais simples bebo um malbec no som, kevin canta a incompreensão uma nostalgia latina me invade penso na verdade, e tão logo ela se dilui penso em sexo, fico na vontade penso no amor, me inflo penso na arte, e me alegra o devir e o que está por vir de qualquer forma estou feliz gosto de domingos sorrio sozinha e vou colorir os meus desejos

Viver é bom nas curvas da estrada...

A solidão é uma puta velha Ela chega cheia de ressentimento Vai contando aquelas histórias mais bizarras A gente se sente meio constrangido porque ela não tem papas na língua Fala das dores passadas, das vezes que não queria Ela gostaria de se vingar Mas percebe que não há vingança possível A quem? Ela se pergunta E começa a contar outras histórias Talvez elas nunca tenham existido Mas se não existiram, não são menos reais Só sei que de ressentidas não têm nada E são uma celebração da vida, daquela forma mais inusitada Diferente do comum, daquele comum que criamos como couraças E o ressentimento vai ficando para trás quando se esquece Ela vai esquecendo e vai tecendo o novo Ela vai dizendo da montanha que escalou, do país que conheceu Do homem que amou, das loucuras que cometeu Se é verdade não importa, Já produziu em mim uma alegria torta de viver Tudo aquilo que posso fazer, todo o mundo inteiro pra sentir E depois de contar todas as históri

sobre o amor

eu amo o que amo e quem amo e isso é o que tenho para lutar! e tudo e todos que amo amo porque existem e nada mais não os quero para mim quero que queiram o mundo amo o mundo porque antes de mim ele já aqui estava, e depois que eu me for ele permanecerá amo amar porque isso é viver e viver é estar em movimento amo o movimento e me consolo ao saber que os dias se alternam com as noites todos os dias amo porque amo e é isso que tenho para lutar!

eu, o que é

"sou uma sombra, venho de outras eras" "pirata sempre rouba alguma coisa", me disse uma amiga querida e completou: "vc é pirata que rouba corações" não sou humilde mas não confunda alhos com bugalhos... observadora na grande máquina do mundo lançadora de projéteis, os quais pretendo que alcancem longas distâncias frágil ser que se encanta e manda o medo se jogar da prancha do navio gente que faz... e desfaz! shiva nataraja? para mim "a melhor maneira de viajar é sentir sentir tudo de todas as maneiras" "gosto de uivar no vento com os mastros e de me abrir na brisa com as velas e há momentos que são quase esquecimento numa doçura imensa de regresso... a minha pátria é onde o vento passa" definitivamente amo... você, o mar, a música, o tempo, as cores definitivamente odeio... mas não quero perder tempo com isso "uma parte de mim é todo mundo outra parte é ninguém: fundo sem fundo"

eu "é" um outro

quem eu sou... um grande conglomerado de muitos eus e do outro uma vontade de não ser só eu nessa limitação que aprendi a acreditar e nao necessariamente uma questão de escolha sou o outro sempre, quando sorri e quando chora e então, não durmo

desabafo

viver pairando sobre as brisas para depois lançar-me novamente pudera eu ser brisa e toda a vida pareceria mais leve mas eu sinto até os interfones quando tocam e as britadeiras espalhadas por todas as cidades que hoje já são grandes até mesmo sem sê-las e que agonizam em obras sem fim quero ser poeta do meu tempo mas não sei até onde isso é possível recolho as folhas e os gravetos de outono para que não perca de vista minha alegria de mudanças porque elas doem e eu sinto doer cada pedaço do mundo as agonias, a força vencida pela arma os peixes, as tartarugas, e tudo o que sofre no mar tão invadido de garrafas carregadas de uma mensagem que preferia não ler sinto a dor de cada árvore derrubada, cada planta impedida de crescer, cada inseto que se esquiva no concreto e por tudo o que é grande porque é difícil desejar a grandeza em terra de ovelhas e é por isso que eu amo as putas que querem ser putas os vagabundos por opção a

Pílulas

1. Em tempos de sociedade de controle morar num prédio sem câmeras nos elevadores, corredores e garagem é um luxo contemporâneo pra quem não sorri ao ser vigiado... Já há câmeras demais no mundo, inclusive nas bolsas e bolsos de todo mundo que, não contente em utilizar seus celulares em nome da proteção e do bem querer daqueles que amam , ainda podem utilizá-los para o disque denúncia da vida alheia. 2. Manoel Carlos, poupe-nos de suas lições e manuais de como viver a vida! 3. Serra na capa da Veja sorrindo? Alguém já viu o Serra sorrir antes? Quanto custa esse sorriso de Monalisa? 4. Escrevo tão pouco ao papel hoje que minha letra leva um tempo pra se encontrar... 5. A questão não me parece ser produzir e criar, mas produzir e criar com consistência. 6. Nas décadas de 70 e 80 Caetano Veloso, Sidney Magal, Ney Matogroso, Rita Lee, cada um com a sua genial singularidade, frequentavam o programa dos Trapalhões. Hoje a Turma do Didi recebe os astros mais singulares e inteligente

Rotina

Existe poesia na rotina? digam aí. eu só vejo poesia! ---- Toca o despertador. Acordo. Não entendo o que está acontecendo. Disparo o soneca do celular. Ontem dormi um pouco tarde. Foi inevitável. Senti o cheiro da pele e do cabelo, pé no pé, chuvinha lá fora, o calor do corpo dele do meu lado. Gozei e perdi o sono. Falamos da vida, tivemos idéias esquisitas, rimos muito disso. Ele dormiu, eu fiquei pensando em qualquer coisa, peguei um livro, Pessoa, Saramago, Tantra, Eram os Deuses Astronautas... tanto faz. Era um livro que eu gostava. Dormi. O soneca dispara a cada cinco minutos. Não consigo configurar pra dez. Levanto e vou fazer xixi. Vejo minhas olheiras no espelho. Vou ao quarto dar um beijo no rosto dele enquanto ainda dorme e fecho a porta. Nado, faço yoga. Volto. Fazemos café, vitamina com frutas, quinua, linhaça e leite de soja. A gente se beija, se abraça e come pão integral com manteiga. Vejo o que se passa na TV. Notícias de furacões, terremotos, maremotos, Mais Você,