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Mostrando postagens de março, 2014

Silêncio

dei-me o desafio do silêncio! a partir de agora, tenho comigo uma nova forma de respirar as horas. mas não para negar a palavra. sou justa! ou negaria meu corpo. mas para deixar que, a partir de hoje, e por tempo indeterminado, fale mais o sentimento. para que ele não se dilua na voracidade do verbo e a política se faça nos meus gestos. dei-me o desafio do silêncio para construir uma obra. e para que a palavra possa calmamente lapidada, e, com o tempo, condizente, encontrar, enfim, a sua forma mais reluzente!

O poeta é um inventor

escrever é criar o que ainda não existe quando algo se torna verbo ganha status de concreto e o poeta? o poeta é um inventor : exagera!

Prosa de um querer

sempre depois que te vejo é como se ficasse um cheio. fica cheio de vida o meu coração e tento transformar também em cheio o vazio que fica quando vou ou quando vais. e o vazio desaparece e fica um cheio tanto que transborda de vida semeando dentro de mim. extasiante. como podes ser tão bonito assim? tua beleza vem de longe, de um mundo subterrâneo que é ao mesmo tempo céu, lá onde nasceu a vida, daquele tempo sem tempo onde as estrelas espalharam poeira e era mesmo a música que mantinha em permanência e caos o universo. uma música das esferas a dar origem ao verbo. às vezes, depois de te ver e te sentir, quando só, eu choro, minutos seguidos, até que paro, sorrio e vou dormir. mas não choro um choro de tristeza. é o choro da falta das palavras. é o choro da primeira mulher que existiu sobre o planeta. às vezes rio. pois só o choro ou só o riso, destes momentos de ficar só após teus gestos e com teu cheiro impregnado em mim pelos abraços e o toque dessas mãos que criam versos, são cap

Brevidade

a vida é de uma tal brevidade que quase parece calculada para que, apenas pela intensidade, possamos sorver suas colheradas

O amor do lobo e do cordeiro

um lobo sempre reconhece outro lobo pelo faro, pelo olho no olho um lobo sabe que encontrou um outro lobo quando sente no outro – como um calafrio – a carne e os ossos de um grande desafio o da própria existência quando vê nele a mesma solidão – necessária – e a liberdade rara de saber que a vida transcorre em ciclos de início e de morte que nutrem o amor infinito que carregam em sua sorte mas um lobo enfraquecido, levado para longe de seu alimento, pode enganar-se por inteiro e ver um lobo quando encontra um cordeiro um cordeiro também sempre reconhece outro cordeiro nasceram para o rebanho e do rebanho jamais sairão regozijam-se nele e, felizes, mantêm fechados e nada atentos seus pequenos olhos remelentos todo cordeiro tem vocação para ditador não suporta como os lobos se fortalecem de sua própria dor nem sua calma solidão na estepe nem como correm juntos como se corressem livres e abafam com sorrisos falsos toda a inveja dos olhos abertos das mat

Gosto de Manjericão

Conto de 2007, que está publicado em meu primeiro livro, Novelo . Em 2011, o revi retornando à sua maior inspiração: Nietzsche.  Qual pode ser a nossa doutrina? – Que ninguém dá ao ser humano suas características, nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e ancestrais, nem ele próprio (...). Ninguém é responsável pelo fato de existir, por ser assim ou assado, por se achar nessas circunstâncias, nesse ambiente. A fatalidade do seu ser não pode ser destrinchada da fatalidade de tudo o que foi e será. Ele não é conseqüência de uma intenção, uma vontade, uma finalidade próprias, com ele não se faz a tentativa de alcançar um “ideal de ser humano” ou “um ideal de felicidade” ou um “ideal de moralidade” – é absurdo querer empurrar o seu ser para uma finalidade qualquer. Nós é que inventamos o conceito de "finalidade”: na realidade, não se encontra finalidade... Cada um é necessário, é um pedaço de destino, pertence ao todo, está no todo – não há nada que possa julgar, medir, comparar,

outono

um poema que nasce na madrugada de vento forte e chuva desejada, trazendo o outono é calor – ou frio – que sobe pela espinha da noite de tempo longo, inteiramente... minha? tempo sem fim, do que insiste em ser verdade do filme, do vinho e de mais nada talvez, da vaidade desejos, palavras, silêncio após Beethoven, calma após a estrada o outono... sempre revelando a minha fala mas um outono de abandono e amor por uma rima que não pode ser falada

Saga da autoreferência

broto como flor de cacto hoje nasço de um mandacaru planta forte carregada de espinhos eu floresço sonhos concretude plena sorte de ser quem sou mas foi preciso muito foi preciso que esse espinho cravasse no meu peito a tua seiva e derramasse nela um ideal fugaz de vida para que eu pudesse construir minha fortaleza devaneio... mas meu muro não é muralha e tem tantas portas quanto luzes acesas passei por muitas estradas naquela juventude já perdida vi tantos se perderem para nunca mais voltarem eu definhei meu corpo novo em copos e garrafas vi o êxtase tomar os seres aquela alegria que se tornaria mágoa e vi uma dessas alegrias se tornando pó até desaparecer morta deixando frutos mas levando sua juventude embora magra, sofrida e quão cheio de doçura ele era... mas teve que partir carregado pelas pedras e então, eu ouvi um não que jamais esqueci nunca um não me fez tão feliz e me libertou para que eu me descobrisse liberta já faz tanto

O amor em tempos de metamorfose

que solidão maior pode haver que a do sentimento imponderável cujas palavras tentam dizer e se atrapalham cujo olhar talvez diga mas não tenha tanto tempo cujo sorriso e suor revelam mas cujo silêncio é necessário que solidão maior a de um sentimento que é, ao mesmo tempo, desejo de pele e um respeito que o preze admiração, cuidado, distância tesão, desmedida do afeto, errância capaz do mais profundo entendimento e até do esquecimento – para renovar-se à luz do qual eu seria capaz de loucuras desvairadas como me deixar solta ao vento para ser carregada por tais mãos que me arrepiam e os olhos que me saltam com brio solidão do corpo na madrugada, assustado acordado por sonhos sucessivos em noites alternadas por mãos, janelas, quartos no escuro que revela as vozes que escuto não sei de onde as visões que chegam sem bater na porta saltando em minha aorta a respiração pesada da certeza de algo que me revela mais do que a estrada passada um sentimento

A sedução da letra

a palavra me seduz a todo instante e insiste no torpor da madrugada errante corpo inflamado de amor sigo obedecendo seu chamado a palavra me alivia os gritos dos sonhos sucessivos e meus gestos de entrega, alados o aperto do peito de lascívia o desejo de um dia, a calmaria... a palavra comunica meu afeto e minha angústia e com ferro e simpatia vai tecendo, como linha, o bordado do meu dia a dia quisera tão somente a música... mas é a palavra que dita minha física minha palavra é beira e caminho linha e linho e, ríspida, tece a correnteza da mais incerta das certezas quisera tão somente o silêncio da grande beleza... mas a palavra é minha vida e é nela que faço a minha lida

Entre medianeras e amores líquidos, é carnaval!

É noite de domingo. Um domingo de carnaval e Oscar. Resolvi escrever sobre relacionamentos. Nada a ver? Tudo a ver! É um bom tema para o carnaval. E também para o cinema. De fato, este é um bom tema para um texto a qualquer hora. Garante leitores e boas tiradas! Mas, diria uma amiga ligada nos 220 volts: nada a ver é escrever no carnaval... Brincadeiras a parte, a vontade de escrever esse texto surgiu quando eu estava assistindo ao filme Medianeras, há algumas horas atrás. E, claro, juntou-se à importância que tem essa palavrinha na vida de todo mundo, inclusive na minha, e que sempre tira o sono da galera: relacionamentos! Desde que o filme foi lançado no cinema eu quis assisti-lo. Mas as oportunidades não apareceram. Até hoje, quando liguei minha smartv,  acessei o tal do Netflix e lá estava o filme entre as sugestões. E veio muito bem a calhar. Permita-me um prelúdio : na sexta-feira, decidida a não querer ver carnaval na minha frente, eu arrumei uma mala e parti para Nite