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Mostrando postagens de 2017

Babel

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Minha missão É “incorrer em tautologias” Nasci errada Uso mantras diariamente Por necessidade e prazer Não sei olhar no espelho Que não seja para ver as rugas Que escalam os fossos do cérebro O azul me enerva Posto que é cor que não se soube Por muito tempo Se uso óculos Não é para melhorar a visão Toda a gente já nasce enxergando Mas esquece Minhas mãos não me entregam verdades Meu rosto menos ainda Tudo o que sei Coloco em palavras E elas não são Absolutamente nada Para ver de fato É preciso abandonar A seriedade Gosto de descascar as sombras...

Catedral

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Há tempos atrás Sonhei para nós dois Uma gótica catedral De pedras firmes E torres bem altas Para delirarmos A ilusão da eternidade Mas ervas daninhas Proliferaram  nas cabeças Dos gárgulas E no fim dos tempos O que restou Foi nada Até nos esbarrarmos Na velha cidade Sob o leito Da madrugada

Apenas de poesia

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Se eu pudesse Viveria só de poesia Encarnada na beleza E na crueldade do sutil Largaria os delírios errados As planilhas sem vida Os contratos que amarram A burocracia construída Pois amanheci desejando mergulhar No que revelam aqueles olhos Foi por pouco que não te disse, Não sei bem de que maneira, Que devias ser meu, por que não Amanheci querendo o brilho dos girassóis Dos quadros de Van Gogh na minha janela E quando eu olhasse a vida lá fora Não veria apenas os carros que passam Amanheci querendo mais a prosa de ontem O riso amigo talhado em reencontros criativos O prosecco providencial de uma noite sem fim Poética dos tempos sem tempo da paixão Amanheci querendo diluir minha alma No andantino da quarta de Tchaikovsky Ainda que o russo não rime com o português Mas amanheci e já tocava o telefone E me lembrei da moral E já era tarde para o capital Pois que lugar pode ter a poesia no tempo do trabalho Pois que lugar pode ter a poesia no tempo das conv

As quatro estações cariocas

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A Primavera Chegada é a Primavera Se uirapuru ou sabiá que a saúda, que importa Correntezas aninham-se aos ventos que celebram pássaros E as águas correm aliviando o doce calor carioca Uma tempestade se anuncia no horizonte marítimo Trovões levantam as ondas e alegram meninos Ao seu fim, retornam as andorinhas ao Arpoador E distribuem hipnóticos cantos sob o céu azul Neste cenário de luz entre o mar e o bairro alto Ao balançar das árvores e às buzinas de carro Dorme o mendigo com um buquê de flores e o seu cão ao lado Do pastoral subúrbio ao centro festejante Dançaria Vivaldi um samba ao seu próprio furor e abrigo amado Da primavera, cuja aparência de quase verão é brilhante e austera   O verão Sob a dura estação pelo sol incendiada Lânguidos homem e cachorro, arde o meio dia Libertam as maritacas seu canto estridente Cantores correm para os teatros à refrescar a poesia Um doce vento norte se vai, e uma disputa É improvisada pelo sudoeste das viradas na

O universo das coisas não publicadas

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Sento-me diante dela A quem costumamos nomear vida E à rosa subsiste seu nome Deixo de lado cetro e vaidade Acomodo-me em seu sítio forte Onde trono é tronco de árvore Ela me solicita despir-me Abandonar os livros e a razão Para ouvir o que grita Recolho os meus sentidos e os vazios Meus demônios dizem Que talvez não valha a pena Uma nudez com pena da morte? E a morte ri na minha cara E diz que é vida ainda Retiro, então, a pele Marcada mesmo É por traços invisíveis E encaro os profundos olhos dela Vida ou morte, tanto faz São fêmeas Ambas dão a luz E são a mesma face cálida Mirando as nossas fragilidades Para extrair delas O óleo essencial de nossas almas Verdades Busco em seus espelhos Os porquês Em vão, tolice Disparo sangue pelos meus Com o coração chovendo espinhos Despedaçado Ao lembrar a infância feliz Com cheiro de mato Totem de um tempo já perdido O que importa é fluído A vida é círculo E de tudo resiste sempre uma flor De ca