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Mostrando postagens de junho, 2014

Para as noites pequenas

Ah, se eu pudesse... Fazer passar o tempo E me deixar esquecer o vento Se eu soubesse que sofrimento Traz alívio ao final Que dor rima mesmo com amor E que a alegria de algo que nasce É tão somente essa alegria doida e mais nada Se eu soubesse antes que certas fomes não passam Ah, se eu soubesse...

Poema sinfônico

uma sinfonia deve conter o mundo e, em cada mundo, a paixão! amanhecia a vida anunciaram, as madeiras, notas transversais tomaram o meu corpo e eu me rendi ao suor do sopro fosso-oboé do meu desejo clarineta fálica do meu sexo meu nexo é levar a vida na flauta e, em se tratando de paixão, meu fagote sussurra coisas impronunciáveis metalizando a fala minha verdade rara é tomada de torpor trompas, trompetes, tubas, trombones quando o mundo se refaz, são eles que anunciam e, logo depois, na percussão do universo, anuncia-se o verbo! um tímpano é capaz de produzir um mundo novo e a infinidade de tudo o que percute torna a existência mais certa e menos rude e, entram elas, as teclas, martelando a minha espinha dorsal e arrepiando versos que, piano, poderiam fazer nascer carnaval para então, cravo, ressurgir, na quarta-feira, o sagrado em uma harmonia inteira a ecoar, também profano, o choro de um magnífico coro para chegarmos às cordas! onde a reali

Um último tango no Rio de Janeiro?

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da noite pesarosa de um tango insuportável renascerá Piazzolla descalço e sem pudores para acertar os passos que se alinham tortos num tempo descompassado virá predizendo  o fim de uma jornada - na noite pesarosa, carioca e amarga - há tangos improváveis que acabam sendo dançados mas o descompasso não pode ser perpetuado é como dor de escarro que dói no peito conjugado de promessas as farpas miseráveis dos afetos absurdos -  é preciso devolver a harmonia da cidade - em Paris, morreriam os amantes envoltos em lágrimas e um bandoneón, afogados às margens do Sena - com uma garrafa do melhor vinho à mão - no Rio de Janeiro a chuva se confunde às lágrimas dos que são lançados no deserto - escondendo o céu claro - e um último tango deve ser dançado cansado está de existir descompassado