jamais houve metamorfose maior que esta nem silêncio tão doloroso desses de nascer o novo revirando o próprio poço jamais a vida gritou tão alto dentro do meu corpo alto, tanto, que sou incapaz de escuta e deixo que se derrame todo o pranto sinto é rasgo no estômago e o coração pulsando em cada veia desfazendo toda e qualquer teia transformando em cacos os laços para renascê-los borboletas sinto é que rasguei agora a placenta e ando testando a carga nos fios da solidão para saber até onde aguenta sei que não mais haverá drama estou farta jamais houve metamorfose mais rara nem silêncio tão precioso desses de celebrar o novo refazendo o próprio poço
Escrevo poesia quando menos espero No aguardo da poesia mesma Ou flertando com aquela Que brota do concreto Todo o tempo ela assopra no meu ouvido: vai, Vanessa, me revela! E as palavras me saem Como vazamento No bueiro da calçada Invadindo a arquitetura E toda a forma muito bem estruturada Suja, bela, inesperada Palavra amorfa que se amolda Ao que transborda Nessa hora eu poderia ser qualquer coisa Chão, parede, janela Qualquer densidade com cheiro de musgo Todas as vigas e varas do teto Para saber como é ser permanente E preparada com cimento para o acaso Porque a poesia me ensinou Que ser humano se prepara mesmo É no despreparo