poema-jardinagem



queria hoje uma chuva de flores
a cair sobre meu corpo
retirar-lhe o peso
e transformar-lhe em flor
eu o queria inteiro,
esse corpo cansado, sem chão
para oferecer-lhe cheiro de alfazema no pé,
cor de rosa, violeta, orquídea preta
senti-lo pétala a pétala
como se fosse gérbera vermelha

queria hoje ser um lírio aposentado,
um girassol abandonado,
a compartilhar com ervas daninhas
o gozo de brotar de qualquer jeito

ser um corpo leve e sair por aí como dama da noite
que não pede desculpas ao entrar sem bater
um frangipani enlouquecido!

corpo sem culpa,
eu brotaria dente de leão, flor que voa,
e voaria para sempre até que me esvaísse

quando então eu já seria uma lótus universal
conectando o espaço sem fim de todos os corpos
morando sob suas cabeças
os ajudando a brotar e voar

queria hoje só brotar e voar
e dormir como guirlanda floreada
posta na árvore do jardim

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