Um último tango no Rio de Janeiro?


da noite pesarosa
de um tango insuportável
renascerá Piazzolla
descalço e sem pudores
para acertar os passos
que se alinham tortos
num tempo descompassado

virá predizendo 
o fim de uma jornada

- na noite pesarosa, carioca e amarga -

há tangos improváveis que acabam sendo dançados
mas o descompasso não pode ser perpetuado

é como dor de escarro
que dói no peito conjugado de promessas
as farpas miseráveis dos afetos absurdos

-  é preciso devolver a harmonia da cidade -

em Paris, morreriam os amantes
envoltos em lágrimas e um bandoneón,
afogados às margens do Sena

- com uma garrafa do melhor vinho à mão -

no Rio de Janeiro
a chuva se confunde às lágrimas
dos que são lançados no deserto

- escondendo o céu claro -

e um último tango deve ser dançado
cansado está
de existir
descompassado


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