Rio 450 gestos
Tens um gesto que se desdobra:
Aquele que reconheço no espanto!
Não soltas, nem amarras
Encantas e provocas medo
Mas presa ao medo e ao leme
Tens sorriso curtido de malandro
Sambas o romantismo do tempo dos poetas
E a alvorada dourada da Baía de Guanabara
Corres...
Fugidia e fugindo no lamento
De veias mal tratadas
Mas, ah, és o Rio!
Dos tantos que dormem matutinos pelos trilhos da Central
E aquele do bonde de outrora que atravessa
As minhas saudades mais bonitas de pôr do sol
Trilhos que levam às salas e às senzalas
E tua força reside é nesta gente que escapa
Nos meninos que correm descalços jogando futebol
Nos que deslizam nas ondas
Nas moças de beleza eternizada em música
Que sabem que são mais que uma beleza carimbada
O Rio é de muitas caras e "maracas"!
E, porque não, do terno e da gravata
E dos sinais que atravessam a Presidente Vargas
Mas como choras...
O choro vermelho de almas tão novas
Deveriam ser anjos,
Tão somente crianças a brincar nas tuas areias -
Choras ainda o choro alegre ao qual Villa fez sua reverência
E toda noite um bar também a faz.
Até Madureira chorou!
E tu, Rio, choras em cascatas por tua urbana floresta
E suas quente, cidade sem pudor
Sob o sol dos hoje mais de 40 graus diante de tanto motor
- O Rio 40 graus ficou no século XX e hoje tu ferves uma euforia nova -
E amas! Como tu amas, urbe desordenada!
Num aglomerado de corpos que dançam e passeiam quase nus,
Ainda que vestidos, travestidos e luminosos
A desafiar tuas vizinhas econômicas sem praia
Já disseram que és caos e beleza
E que continuavas linda com o barquinho a deslizar
Mas que hoje só o porto é maravilha.
Porém, vê bem, atenta-te!
Como um rio de amor sobre as avenidas
Que partiram uma cidade arquitetada na loucura,
Até que te saíste bem, por não saber quem te pariu
Foi Dom João quem fez?
Pedro quem fez?
O negro da Praça XI, o cigano perdido,
Um Pereira de passos dúbios e compridos...
Que importa quem te fez
Se é a tua natureza anterior a qualquer Debret
Que se impõe magistral sob os arcos da Lapa
E os navios que todos os dias invadem tuas águas.
Se são as tuas montanhas rindo
Ao pé de quem passa, dizendo:
"Aqui quem manda sou eu!"
Muito embora a deliciosa arrogância carioca
Suavize todo esse esplendor em seres a terra de São Sebastião
Minha alma canta
Estou hoje a celebrar que, Rio, és um rio
Tudo que por ti passa nunca sai o mesmo
Onde toda a dor que se sente
Alivia-se no baile ou nos braços do Redentor
E tem o horizonte do mar para desaguar
(Marinheiro, marinheiro,
Chega ao Rio e logo aprende a nadar...)
Peço licença e paz, com voz
A voz do morro e a do asfalto -
Para o maravilhoso gesto
Do espanto abre-alas
A traduzir arranhas-céus e favelas
Em mistura de funk, samba, bachiana e carnaval!
Para que eu toque então, para ti, Rio de Janeiro
Uma canção de amor
No Theatro Municipal!
Rio de Janeiro, março de 2015.
Escrita para concerto da orquestra Johann Sebastian Rio no dia 17 de maio de 2015, com performance de Márcio Sanchez sob o Prelúdio da Bachiana Brasileira nº 4, de Villa-Lobos.
Aquele que reconheço no espanto!
Não soltas, nem amarras
Encantas e provocas medo
Mas presa ao medo e ao leme
Tens sorriso curtido de malandro
Sambas o romantismo do tempo dos poetas
E a alvorada dourada da Baía de Guanabara
Corres...
Fugidia e fugindo no lamento
De veias mal tratadas
Mas, ah, és o Rio!
Dos tantos que dormem matutinos pelos trilhos da Central
E aquele do bonde de outrora que atravessa
As minhas saudades mais bonitas de pôr do sol
Trilhos que levam às salas e às senzalas
E tua força reside é nesta gente que escapa
Nos meninos que correm descalços jogando futebol
Nos que deslizam nas ondas
Nas moças de beleza eternizada em música
Que sabem que são mais que uma beleza carimbada
O Rio é de muitas caras e "maracas"!
E, porque não, do terno e da gravata
E dos sinais que atravessam a Presidente Vargas
Mas como choras...
O choro vermelho de almas tão novas
Deveriam ser anjos,
Tão somente crianças a brincar nas tuas areias -
Choras ainda o choro alegre ao qual Villa fez sua reverência
E toda noite um bar também a faz.
Até Madureira chorou!
E tu, Rio, choras em cascatas por tua urbana floresta
E suas quente, cidade sem pudor
Sob o sol dos hoje mais de 40 graus diante de tanto motor
- O Rio 40 graus ficou no século XX e hoje tu ferves uma euforia nova -
E amas! Como tu amas, urbe desordenada!
Num aglomerado de corpos que dançam e passeiam quase nus,
Ainda que vestidos, travestidos e luminosos
A desafiar tuas vizinhas econômicas sem praia
Já disseram que és caos e beleza
E que continuavas linda com o barquinho a deslizar
Mas que hoje só o porto é maravilha.
Porém, vê bem, atenta-te!
Como um rio de amor sobre as avenidas
Que partiram uma cidade arquitetada na loucura,
Até que te saíste bem, por não saber quem te pariu
Foi Dom João quem fez?
Pedro quem fez?
O negro da Praça XI, o cigano perdido,
Um Pereira de passos dúbios e compridos...
Que importa quem te fez
Se é a tua natureza anterior a qualquer Debret
Que se impõe magistral sob os arcos da Lapa
E os navios que todos os dias invadem tuas águas.
Se são as tuas montanhas rindo
Ao pé de quem passa, dizendo:
"Aqui quem manda sou eu!"
Muito embora a deliciosa arrogância carioca
Suavize todo esse esplendor em seres a terra de São Sebastião
Minha alma canta
Estou hoje a celebrar que, Rio, és um rio
Tudo que por ti passa nunca sai o mesmo
Onde toda a dor que se sente
Alivia-se no baile ou nos braços do Redentor
E tem o horizonte do mar para desaguar
(Marinheiro, marinheiro,
Chega ao Rio e logo aprende a nadar...)
Peço licença e paz, com voz
A voz do morro e a do asfalto -
Para o maravilhoso gesto
Do espanto abre-alas
A traduzir arranhas-céus e favelas
Em mistura de funk, samba, bachiana e carnaval!
Para que eu toque então, para ti, Rio de Janeiro
Uma canção de amor
No Theatro Municipal!
Rio de Janeiro, março de 2015.
Escrita para concerto da orquestra Johann Sebastian Rio no dia 17 de maio de 2015, com performance de Márcio Sanchez sob o Prelúdio da Bachiana Brasileira nº 4, de Villa-Lobos.