Diante do concreto
 
Disponíveis antes que a força bruta  Desmantelasse os ossos de tempos sofridos  Estávamos, eu e tu, diante do concreto  O relógio marcava 23 horas  Chovia fino, havia silêncio, fazia calor  Teus olhos quase claros e gestos singulares  Não davam margem para dúvidas  E eu permanecia sentada observando,  Como se a qualquer momento o mundo  Fosse entrar em guerra  E seríamos os dois, em duvidosa moral,  carregados a um campo de extermínio ou trabalhos forçados  Numa Gulag imprevista de um mundo  Pós-democrático  Perseguidos pela Gestapo das almas perdidas  Antes fosse história, ópera, burlesco  E, na madrugada, pudéssemos apenas  Ouvir com deleite o silêncio e os grilos  Você, a fumar seu cigarro olhando pro nada  E eu, a escrever meu livro, mais umas páginas  Antes fosse apenas filosofia  E um muro não separasse as fomes  E um oceano não se transformasse em máquina de guerra  O que virá não sabemos  Sequer sabemos o que queremos  Você anda perdido de tão encontrado  Amante de tudo nas sac...
