beleza pura

Todos os dias se trabalha
Todos os dias se bebe a cervejinha
Pra esquecer que, todos os dias, não se vive
E as golas das camisas vão assim denunciando o teatro
Muito alinhadas, combinam com as olheiras,
Muito bem delineadas
Porque fracasso é algo que não se pode assumir
É preciso muita maquiagem
As pastas, de tão cheias, quase falam dos fardos que transportam
E as bolsas nos parecem organismos envenenados
Carregando todo tipo de pílulas e aparelhos da felicidade
Enquanto isso a inflação é notícia, a crise se alastra,
As mulheres escovam os cabelos
Mas que mal há nisso? Afinal, somos seres sociáveis,
Precisamos nos preocupar com nossa imagem
E a crise é apenas contingencial
Os cintos vão bem...
Apertando os ventres cultivados com uma indiferença fascinante
Os saltos, esses sim, sabem com é viver
Sustentando essas verdades de bonecas barbies
E, assim, apodrece vida todo dia no estômago do sedentário
Aquele pra quem tanto faz como tanto fez
Conhece?
Vidas que ele não quer saber que mata
Porque, afinal, o que é o outro senão uma ficção!?
Onde vive a beleza então?
Não é na sua camisa Lacoste, arrisco afirmar
Também não é no perfume
Que encobre o cheiro que você não quer sentir
Nem no cabelo escovado,
Na perna falsamente feliz sobre uma agulha
Nos livros do especialista Cury?
No segredo das 100 pessoas mais feliz do mundo?
No desenvolvimento sustentável?
Ok, olhe para o lado:
Vê aquele menino que dorme no chão da calçada?
Vê a garrafa pet boiando na baía habitada?
Vê no espelho uma imagem desfocada, incerta?
Um rosto desconhecido?
Prazer, a beleza é uma peça rara.
Procura-se um colecionador!

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