eu, o que é e se desfaz

a vida é uma brincadeira, definitivamente
e, de fato, é só isso que posso encontrar de definitivo
no mais, tudo o que tomamos como necessário
necessita de tanto peso e solenidade que me faz bocejar
não é possível aos presentes ouvir um professor
que exale poesia em aula de administração
muito menos ao moço de sapatos marrom
que mesmo no elevador parece correr pelas ruas da cidade
carrega uma pasta preta, sei bem o que tem lá dentro
dor, dúvida, um coração aflito e um macho ressentido
mais cedo presenciei apatias
vi aqueles que lêem fernando como bula de remédio
incapazes de rir do pão de queijo que cai aos seus pés
como se fosse a cabeça de um cogumelo rolando
repreenderam o riso desinibido que o poeta compartilharia conosco
ao ler suas próprias palavras
mas quem sou, ora pois, para sair por aí dizendo tudo isso?
eu que nasci sob o mesmo signo, mas cujos heterônimos não me tenho claros?
de qualquer forma, que interessa!
eu, aquilo que sente, pode dizer qualquer coisa
desde que sinta.
porque em breve receberei uma carta de clarice
eu, tão impessoal, toda alheia
que diz eu por falta de uma expressão mais certeira
toda afecção própria, deus num corpo-natureza
leão que quer ser bebê, filhote de leão raio da manhã
brindemos com vinho o surrealismo
e coloquemos de volta no jazz aquilo que tirou dele o mundo das roupas caras
que billie ecoe liberdade, e o camaleão venha nos salvar do tédio estético
para que possamos rir, que vocês possam rir
eu rio, muito, despropósito do corpo
eu (sic), que senti o cheiro do grão de café despedaçado nos dedos curiosos
eu que falei de desejo para quem ainda busca caminhos e inspiração
eu, dos verdadeiros amigos, amigo-amante, amigos-amigos, amigos-irmãos
com quem criar cidades e escolas livres, psicologias baratas, filhos, livros, músicas, viagens de barco, cias de teatro e cartas sobre o tudo e o nada
deixemos de lado as metáforas,
me disse uma voz encorpada que usava cachecol
e as obrigações que impedem a troca de experiências
façamos filosofia como sexo, música como filhos, empresas como delírios de um esquizofrênico que não adoeceu e é puro afeto
sejamos o sol!
o brilho na mais alta montanha, o amor que derruba a raiva
e ama sensualmente o "inimigo"
que não tem vergonha de sair na rua carregando um pacote de papel higiênico
e a luz do poste vai ser tão bela quanto o próprio sol iluminado
e a vida se mostrará como ela é: um constante cotidiano fantástico!

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