poesia para a vida
o brilho dos olhos...
vai embora como cachorro desprezado
se a gente não cuida de manter as paixões
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de repente um dia
você acorda e o mundo começa a existir
mas aí já é tarde
e só te resta aposentar o corpo
morre antes guri, pra não ver que perdeu a vida
ou trate de viver agora que o sonho já está logo ali
quando você virar a esquina, ele acenará
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a alegria se inscreve por si mesma
portanto, procurá-la, é passatempo das fraquezas
é ela quem vem de encontro
não se acha na gaveta, nem na mala, nem num canto
quem espalhou que a dúvida é benefício
é porque cedeu a mão ao medo
e esqueceu que a alegria não duvida
medo de ir exatamente onde se deve ir - e exato não é preciso
mesmo que esse onde deixe de ser depois
aquele onde de agora - que é somente um onde do instante,
para se tornar o que já foi e não é mais
há coisas que não podem prolongar-se
pois não há prolongamento possível
àquilo para o qual já é necessário empenhar esforço,
isso que não conhece a alegria
quando esticadas à força perdem a cor
murcham como flor esquecida no canteiro
e deixam o coração no mesmo ritmo confortável
daqueles que respiram e não sabem o que fazem
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a vida é feita pra durar
mas só dura se o que por ela passa, aceita passar
porque é preciso cuidado, ou o tempo empalha
a vida é o que existe no movimento
e nada mais que isso, penso agora...
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no teu corpo pleno, terra
eu dançaria a noite inteira
para sentir com mais afinco
o cheiro de orvalho e do mar
e depois da dança eu promoveria um banquete
para que todos os meus convidados,
feitos de elementos os mais distintos,
pudessem se deliciar com tudo que nasce de ti
e com aquilo que de nós emana
e se permite existir antes da cultura
porque é isso que é preciso
dançar a dança esquecida do corpo pleno
para imanencizarmos inteiros os cantões de nossa coisa-alma
essa coisa-corpo, coisa-mente, coisa lugar algum
coisa-amor, amor-semente, semente-força
para brotar o inominável que desliza pela pele
no teu corpo pleno, terra
eu seria capaz de ser eterna e sem memória
feliz como sabem ser as pedras