poesia de família

os poemas dedicados à família!

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do corpo uno
aos meus pais

vocês,
que me conceberam...

são também o meu corpo!

está no meu sangue o código 
que vem de gerações antigas

do homo sapiens
aos nossos patrícios
seu pereira e sr. vieira cristo
outros de nome desconhecido...

mas são vocês que estão na minha pele!
de que importa o sangue?
importa a relação viscosa 
do amor de pai e mãe

a torcida calorosa na arquibancada da vida
aquele beijo dado no saguão do aeroporto
enchendo de lágrima a despedida
tão “desnecessária” 

porque logo viria o retorno

aquele semblante de cansaço...
e eu chegava com o cheiro de álcool
aquela voz levantada com o medo
aquele frio na espinha quando chegou em mim
o desejo

e então, aquele olhar
aquele que revela uma galáxia 
de quem carrega o coração fora de si

ninguém será capaz de me dizer
que tal sensação valiosa é essa
que nos torna do outro, um só 
com nosso corpo

saberei um dia
quando o meu próprio carregar a vida

por ora, sou filha
por ora, recebo o abraço caloroso
e meu corpo sabe onde pode encontrar repouso

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mãe-vó
para minha avó Ceny, atriz, dançarina e encantadora

era cedo na minha vida
eu descia as escadas te chamando, mãe-vó

queria tua comida,
teu sorriso, teu cafuné, 

queria tua queijadinha
e os biscoitos amanteigados de Petrópolis

era a tua festa a minha alegria
dos carnavais no quintal
e da hora de acender as luzes da árvore de Natal

o samba, a música que sempre emanou de ti
o quarteto de cordas que carregas dentro do corpo
e o teatro inteiro para lhe receber

ah, quando te vi naquele cartaz...
o vô tão jovem e galã pra te conquistar...
grande atriz, eu quis ser como ti!

e nunca me esqueci
todo o encanto de tantos anos lá na serra
sua voz ecoando pela casa imensa
aquela água gelada que me fazia chorar
e tu, rias, e dizias que ia passar...

depois fazias um chá
senhora que és dos mistérios das plantas

carregas neste corpo a própria divindade
de quem vai floresta adentro porque sabe
que por ela é protegida

carregas em ti, mãe-vó
essa certeza da vida, uma alegria, uma energia 
que me ensinou a tanto lutar pelo desejo

tu podes nem saber, mas me deixou este legado

o da luta
o da arte
o doce sabor da música

e a poesia...
como aquelas que escrevias nos teus cadernos de receita!

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Karine aos 25
para Karine Rocha em 15 de novembro de 2012

você chegou sem pressa
e de surpresa
tinha a calma de quem
parecia saber
que viria para trazer
doçura

e fazer nascer uma canção
de encantamento
e conciliação

você cresceu iluminada
de cabelos cacheados
dourada

dona de um afeto absurdo
saiu por aí distribuindo beijos
carinhos, afagos que
nunca
poderiam
ser negados

mas é hoje, ainda,
uma criança
porque na sua beleza
de se tornar gente grande
guardou aquele olhar
curioso, de quem sabe
que o mundo
ainda tem muito
pra dar

sensibilidade da água
encarnada num escorpião
pura carne do coração

você só cresce
e é grande de alma
é força tamanha
de ser amor-mundo
como se quisesse abraçar
todo esse mundo

é essa energia
em ser
amor
e mais nada

porque amor
é tudo

Karine aos 25
é mística
misticismo concreto
de ser pura magia

amor-mago
que conquista
e arrasta
para o universo sem fim
das coisas encantadas dessa vida

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Poema do amor sonoro
presente de casamento para Andressa Rocha e Fábio Lessa

tanto já se falou sobre o amor...
tanto já se compôs na inspiração do amor...
e parece que nunca é o suficiente!

e lhes digo: não mesmo...
porque o mundo todo é amor!
reconheço...
e o mundo é grande!

e se é para falar e compor,
que seja sobre o amor!

assim insistem os amantes!
...e como haveria de ser diferente!?

insistem os músicos!
...e poderiam insistir em outra coisa!?
e os fonoaudiólogos!

pois amor se sente al dente,
e se sabe já no prólogo!

amor não é aquela coisa certa
que busca o casal, com uma lista,
na prateleira de um supermercado

uma lata de leite condensado
ou uma caixa de suco adoçado...

amor é incerto...
vive alternando dissonâncias
em uma sucessão de ritornelos.
às vezes provoca surdez, nos deixa mudos...

quando chega, acelera o coração
e deixa a perna bamba,
como se fosse um contrabaixo
a marcar o pulso.

amor é a doce alegria de viver no não saber!
de se fundir, de se esquecer,
de ser mais que um
e de ser um do tamanho do universo.
puro verbo, puro verso!

amor nem deveria ser dito assim,
com palavras...
pois é tatuagem rara

amor merece mais é música!
merece mais é voz, escuta!

merece uma dança desvairada,
uma cerveja bem gelada,
uma loucura a dois numa praia enluarada!

amor não comporta entendimento algum,
mas sim, uma viagem pra Cancun!

amor pode até rimar com dor,
como dizem por aí.
mas essa é rima pobre...
porque amor rima mesmo
é com alegria!

é por isso que então,
levemos corpo ao amor,
forma de gente!

hoje o amor tem a forma de um homem
cujo grave tom chegou fundo
num agudo coração profundo

e a forma de uma mulher
cujo canto de sereia e ouvido de quem sabe
chegou ao cume do coração
daquele que lhe cabe

hoje amor tem nome!
e assim como amor rima com alegria
rimam Andressa Rocha e Fábio Lessa

e a graça do amor é essa:
rimar as singularidades!

e assim também,
como hoje amor tem nome,
hoje amor é som,
no corpo sonoro de Fábio e Andressa,
para que a gente não esqueça
que a concretude do amor
é o ritmo que reverbera em todos os corpos
e a melodia da existência
que faz vibrar os corações
como cordas de aço e voz
a nos levar para os mais belos portos!

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