Astrolábio
Partiu mais um barco Levou pro sem rumo da vida Os barris de rum vazios Quinquilharias que já não Faziam sentido Roupas velhas, Papagaios mortos E todas as cartas de um baú Já carcomido Onde a craca dos mariscos Longe d’água Começou a dar mau cheiro Partiu mais um barco E, em mim, Partiu-se ao meio Mas eu, pirata que sou, Roubei outro para mim! Meu sonho Nunca é um barco abandonado Pois é fiel ao destino De não ficar ancorado No mínimo, Somos uma família de exilados Meus sonhos, o sol, os peixes E os pássaros Conversando todas as manhãs Sob um convés alado E o que dizer do espelho? Quando olho pro mar E me reconheço Sei que antes De amar qualquer coisa Devo sempre Amar meu próprio zelo No mais, Entre uma solidão e outra Encho os barris E convoco a artilharia Agora, ando apenas Com artilharia pesada E não há mais desejo em mim Que passe fome Pois a arma Mais forte que encontrei Foi dar ao barco