Astrolábio

Partiu mais um barco

Levou pro sem rumo da vida
Os barris de rum vazios
Quinquilharias que já não
Faziam sentido

Roupas velhas,
Papagaios mortos
E todas as cartas de um baú
Já carcomido
Onde a craca dos mariscos
Longe d’água
Começou a dar mau cheiro

Partiu mais um barco
E, em mim,
Partiu-se ao meio

Mas eu, pirata que sou,
Roubei outro para mim!

Meu sonho
Nunca é um barco abandonado
Pois é fiel ao destino
De não ficar ancorado
No mínimo,
Somos uma família de exilados
Meus sonhos, o sol, os peixes
E os pássaros
Conversando todas as manhãs
Sob um convés alado

E o que dizer do espelho?
Quando olho pro mar
E me reconheço
Sei que antes
De amar qualquer coisa
Devo sempre
Amar meu próprio zelo

No mais,
Entre uma solidão e outra
Encho os barris
E convoco a artilharia

Agora, ando apenas
Com artilharia pesada
E não há mais desejo em mim
Que passe fome
Pois a arma
Mais forte que encontrei
Foi dar ao barco
O meu próprio nome

Então, carregado o barco
De rum e pólvora de qualidade
Faço festas
E convido outros piratas

Nessas horas,
Abandonado é o coração
De quem não se permite navegar
Meu barco não!

Esse é forte, seguro,
Aguenta as tempestades
Sem renegar
Porque sem elas,
Ele não pode provar
Que é o melhor barco
Que já existiu!

Capaz até mesmo
De suportar a farra
Dos marinheiros que invadem,
Sem convite, o festejo,
Enchem o barco de música e beijo
E, depois,
O acham demasiado

É nesta hora
Que me torno meu próprio
Astrolábio
E me mantenho
Rumo às estrelas
Do mundo desejado

Partiu mais um barco
Roubei outro para mim
E o mar é um círculo

Mas tudo depende
Se paralelas se cruzam no infinito

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