O primeiro dia
Todo dia é sempre
O primeiro dia
Do resto de nossas vidas
Dia de dizer palavras duras
Que já não podiam não ser ditas
E ouvi-las, algumas
De descobrir que o amor se fortalece
Mesmo quando a gente esquece
- Quando se deve esquecer -
E nos dias cinzentos dos afastamentos
Que carregam a esperança
Dos novos e futuros felizes momentos
Todo dia é dia de saber
Que existe amor no sim
Mas também no não
E que não e sim
São como luz e escuridão
Todo dia é dia de jogar coisas fora
Aquelas cartas de anos atrás
Que estavam empilhadas em pastas
Por sua vez empilhadas em armários
Por sua vez empilhados – pesados –
Num excesso de memória
Dia de descobrir que elas
Não servem mais a nada
Que não à história
E é só no coração o seu lugar
Para que guardar tanto objeto
Em um mundo já repleto?
E porque represar energia
Quando deve o novo chegar?
Se o se que passou só existe
Como lembrança e aprendizado
- às vezes como o inventado -
E nem existe ainda o que virá
Sejamos poetas do agora!
Porque todo dia amanhece
Anoitece e retorna a aurora
Sempre na promessa do novo
Sempre na função de um espia
Olhando em direção ao horizonte do mar
Com olhos de quem busca a infinita alegria
Porque todo dia é de basta
Todo dia é de festa
Todo dia é de não dá mais
Todo dia é de promessa
Todo dia é do fim delas
Todo dia é de um santo
Todo dia é de engano
Todo dia é dia de dizer eu te amo!
E de aceitar
O que não se controla
O que não se isola
E deixar voar os pássaros
Que precisam sair das gaiolas
Todo dia é dia de enfrentar
O medo do suspiro derradeiro
E seja ele banhado de paz ou de dor
É sempre o primeiro