Phoenix, um poema
Para Sergio Roberto de Oliveira
De tudo renascemos – Anunciou-se!
Do pó viemos ao pó retornaremos
Para dele, reerguermos sonhos – não muros,
No ciclo eterno de vida renovada
Teu corpo é de cada humano – Alvorada!
Tua dor quem sente é o mundo
Pelos fios da linguagem universal
Emoção-sal
De corpo água-forte
Respirar não é mais
Que impermanência e sorte
E, de repente, a morte
E o primeiro reviver
Simultâneos intervalos
Quando nasce a morte
Morre o passado
Ambos um só, sem hiato
E eis que ela, a vida,
Brilha no choro agudo
Da criança recém-nascida
Morre o jovem, nasce o pai!
Eis o que se consuma!
E celebra-se a bruma!
Segue-se a jornada
Em seu curso, amarrada,
A criança crescendo, o pulso, a estrada,
Dias e noites cumprindo o seu destino insano
E, então, de novo ela, dilacerando,
A morte na forma do fim do amor
Para renascer, em exato instante,
O novo amor que se torna errante
Qual relógio que passa de pai para filho
Mas em novo pulso, resignifica
Morre o marido, nasce o eterno amigo!
Eis o que se consuma!
E, então, inteiro homem!
Até que num pedido de socorro do corpo
Toda lógica perde o sentido
Tonalidade, rima, ritmo
Tudo é abismo
O que se consuma é paraíso?
O que pode um câncer?
Corpo mesmo que se dobra
E se retorce
Cada célula alimentando à si mesma
A morte
Tentando ela entender, a contraforte,
A nota distorcida,
A vibração de desejos que não mais
Compõem-se com os beijos
E definha, renega,
E, como se não bastasse tal sorte,
É renegado
Vela rasgada
De barco abandonado
Que chora
Chora rios
Hipérboles, sim, fazem sentido!
E de tal coisa abissal que é o abandono
Brota a morte de tudo ao redor
Estepe estranha da alma
Lama arremessada na calma
Cheiro de enxofre
Maremoto na noite
Intransponíveis montanhas
Era melhor que fosse mesmo lama
Infinito sem rumo do corpo nu
Era melhor que não fosses tu, mulher...
Poderia dizer
Poderia nunca mais querer viver
Mas amor...
Amor é para os fortes
É atravessar desertos sem garrafas d’água
E sobreviver!
A alma de quem ama
É suspiro em meio ao drama
Jamais adormece ou se apequena
Ou faz contas por obrigação
Silêncio em meio ao não
E festa quando tudo é trama
E a tristeza,
Ainda que o poeta diga não ter fim,
Consome-se em riste para renascer.
Verso triste este meu
Que chega a ti para dizer
Imperativo: sorria!
Que o que não tem mesmo fim
É a vida
Ainda que as células
Digam que sim
Mas tu crias!
Grades férreas
E doces de sonora poesia
Para nós a vida é eterna
Do tempo, terna senhora!
Eis o que se consuma!
E revem a aurora!
Pois, anima-te, amigo!
Veja que o horizonte faz abrigo
Uma luz de lua nasce sem sentido
Embriagada a fome nossa
Dos que criam livros
De palavras, notas
E receitas claroneadas
A natureza é sábia
E tudo ensina
Alumiando pós dias cinzas
Renasce alegria
Arrumação!
Eis o que se consuma!
Morre uma vida, nasce uma!
De tudo renascemos
Do pó viemos, ao pó retornaremos.
Anunciou-se – E fez-se som!
Vanessa Rocha
Rio de Janeiro, junho de 2016