De volta pra casa

Como se revisitasse sólida
A doçura do meu afeto
Aquela estrela amanhecida
Me tomou inteira nos teus olhos
O mundo curtia ao longe
A tua senda envaidecida de saudade
Teu inexato signo da morte
Verdade que tomada ao vento
Foge ao meu caminho
Que tão íntimo ao teu, agora,
Se dobra na curva extática do infinito

Como se faltasse um nome
Uma palavra têxtil me tomou de assalto
E o campo numeroso do meu corpo mago
Fez chover sorrisos como meteoros tortos
Eis que o nome é o que menos importa
Pois se abriram as portas mais esplendorosas
Que temperadas me tomam feito o mar
E carregam meu sangue no teu paladar

Como se transbordasse a fome
Nasceu inteira uma lavoura enorme
Dentro da qual se dança o campo
Imantado de uma música-criança
E brotam lírios, uvas, azeitonas
E árvores pedindo seiva bruta
No horizonte endoidecido de desejo
Em que insetos despejam seus segredos
Na roda placentária movida de cheiro

Amanheci o ser amado no meu beijo
Anoiteci minha palavra nas estrelas
Enlouqueci minha saudade de futuro
No colo de um deus apaixonado
Que de tanto não saber como amar tanto
Criou um planeta

Com água, planta, elefante,
Cerca branca, pedras coloridas,
Cabelos ao vento
E gente a respirar com o sol no rosto
A chuva fina pra lavoura não secar
O vento nos poros pra não enferrujar
O passado passando
O futuro como casa em construção
Tijolo por tijolo para garantir sustentação

E o presente como firmamento
Por onde correr de bicicleta
Com as pernas cheias de vontade
E dançar a música que se queira
Deslizando como bicho na paisagem

Como se o mundo estivesse nascendo agora
Eis que tudo é novidade!

E a sua máquina
Luminosa que só ela
Fez da nebulosa carregada
Um doce céu na minha quimera

E como se agora fosse mesmo só ela
E a minha face cansada
Tivesse me feito nascer asas

Eis que me sinto, como nunca,
Como se tivesse, então,
Chegado em casa.

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