Tenho fome. De tudo aquilo que me tira o ar. Desejo comer os meus problemas para digeri-los.... Desejo comer a própria fome, e também a raiva, a angústia. Devorar a dor. Essa dor de perda. Uma dor de nada. Desejo mastigá-los, um a um, o desespero, os detestáveis e desprezíveis homens que insistem em permanecer, as famigeradas verdades que proclamamos em palanques sob bandeiras moralistas. Eu odeio a fome. Porém, ela é a única certeza, uma certeza animal, selvagem, de que sempre falta alguma coisa, de que sempre, assim, seremos eternos escravos do outro.