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Mostrando postagens de fevereiro, 2007

Móbile

Danço E quando não danço me lanço Retomo dois, três, quatro passos Separo cinco, seis, sete cantos E reparo De um lado a outro me desloco Caminho lado a lado E engano Me engano Sou reflexo Som de eco Me debato Me carrego Sou de ferro E de aço Também refaço Sou de vento E de água Me entrego Afogo mágoa Sou exata Por alguns segundos Antes de uma nova rajada

Água

Caem como estrelas no horizonte da noite Entregam-se como loucos apaixonados Golpeiam, tomando para si tudo o que desejam E mesmo quando não desejam Corróem, diluem, esbravejam Rastejam como bichos famintos Violentam como doentes terminais Carregam, levando tudo o que se move E mesmo o que não se move Desvelam, desnivelam, retomam E minha dor vem como um refluxo Remexe Flutua como bolha de sabão No infinito espaço da solidão humana Pois a cada dia matamos algo que não nos pertence Porque ainda nada nos pertence Matamos algo a cada dia

Do efêmero infinito

Sou uma “pensatriz” do disforme Porque não concebo idéia e história Mas a possibilidade do impossível Sou o que pensa e desconstrói o pensamento Ativista do momento eterno E manifestante da não-teatralidade Sou o que existe e seu oposto E mais ainda, o que não se concebe Uma força que emana dúvida E suga a luz do mundo Sou mais... O que se conserva e o que morre súbito O mundo que existe no intervalo Entre dois longos nadas Mundo sutil e espetacular Sutileza ingrata! Quando se percebe o que eu era Já não é mais

O mar

Esse mar tão aberto que me impele a vivê-lo Não a desvendar seus segredos pois já os sei, meu mar aberto sei a brisa a força sei o tom e os silêncios Esse mar tão meu e tão do mundo lembra-me a mim Tão minha e tão do mundo E o barco que o navega, meus desejos submersos aquáticos fluidos Metamórficos!!! Essa metamorfose do mar sou eu Com ele me entendo Porque as ondas são a energia da vontade e, ainda, o expurgo dos males por cicatrizar E o mergulho o perder-se, longe do medo de lançar-se Onde o doce é intempestivo o raso, profundo e o espaço, infinito E o choro que escancaro minha alegria sob tamanha imensidão Deus Mar Todo Poderoso! Fui criada a sua imagem e semelhança!

tempo

às vezes eu carimbo às vezes eu datilografo dura vida de escrivã dura vida do cotidiano às vezes eu penso... às vezes dispenso

dia perfeito

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um dia perfeito... em que cores efusivas se espalham com o sol, de vento revolvendo alegrias e amores um dia de luz... de vida pulsante no horizonte de saudades de sorrisos e olhares distantes um dia perfeito... com quem viver um dia de luz? com quem viver por todos os dias?

quando o mundo nasceu

todos esses magníficos sons ao luar... sem muita explicação eu amava e como amava o ser celestial que, de tanto rir, me encantava eu vivia para este encantamento naquele tempo em que as flores ainda viviam pela terra naquele tempo em que o mundo, de uma explosão, fez-se esplendorosa profusão de cores e olfatos quanto então toda a vida gritou e transformou o conceito de silêncio

Vasto Mundo

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Tudo em mim é um outro Toda a existência me tatua Mas uma luz se esvai no vazio que me devora Como fogo primeiro Todo outro é um ninguém Um disforme que se perde na neblina Folhas sem verde Telas não pintadas Ondas sem oceano Carregando barcos sem leme Um sopro sem oxigênio Um vento Eu sinto o vento Silencioso no primeiro momento Um vento sinuoso, colorido Que carrega o passado Mas um vento Ventos passam e transformam Ventos renovam E eu desejo o mundo inteiro Que será que este mundo reserva a mim? Qual leveza... Qual intensidade... Em que ombro amigo vou poder chorar? Que novas músicas ouvir? Uma nova velha voz rouca Uma nova velha suavidade Um novo velho distante horizonte Um negro, um homem disposto a voar... Quantas paixões? Tudo em mim é um outro Praia, lagoa, universo Tudo em mim é verso Todo outro é um ninguém Sempre pronto a se tornar alguém

Nostalgia

Existir é viver no limite da sanidade. Se eu pudesse agora te dizer de tudo que em mim explode... Se eu pudesse escarrar minha saudade... Essa nostalgia toda de barro, folhas e suores. Sempre a lembrança entre os presentes!

A fome

Tenho fome. De tudo aquilo que me tira o ar. Desejo comer os meus problemas para digeri-los.... Desejo comer a própria fome, e também a raiva, a angústia. Devorar a dor. Essa dor de perda. Uma dor de nada. Desejo mastigá-los, um a um, o desespero, os detestáveis e desprezíveis homens que insistem em permanecer, as famigeradas verdades que proclamamos em palanques sob bandeiras moralistas. Eu odeio a fome. Porém, ela é a única certeza, uma certeza animal, selvagem, de que sempre falta alguma coisa, de que sempre, assim, seremos eternos escravos do outro.