Espreguicei no silêncio, A alma repleta de sábado. Respirava fundo, Sentia o cheiro de luz. A madrugada, úmida, Tinha som de marolas E de grilos preguiçosos. Lá, extasiada, fui convertida À igreja do corpo E das memórias perdidas. Acharam-se, elas, numa lua escondida Num céu de nuvens-bálsamo Encoberto pela escuridão. Cresci um tanto de centímetros Nos sonhos. Hoje, eles alcançam O longe das planícies. Atravessam montanhas, Correm junto aos rios, E se metem a querer ser o oceano. Tão largos, sagrados e santos! Vez em quando fingem ser coqueiros E deixam suas folhas serenas balançarem Como se fossem os cabelos de Deus. Alonguei no horizonte. Estava escuro. Eu via tudo... A alma repleta!
Eu me consumo Não me importo em morrer Minha chama é daquelas que renascem Ave mitológica Procuro sempre por aquilo que me inflame Nasci sob a configuração da combustão
Saudade do que ainda vou viver De todos os lugares que vou conhecer Ânsia do mundo Da Índia, do Ártico Da montanha que virá para contar segredos ancestrais O além-mar de Portugal O sorriso por compartilhar O alto do infinito para gritar seu nome Saudade sem fim do mar azul Das estradas pelas quais passarão meus pés Dos matos por pisar e causar afetos De todos aqueles cheiros a sentir pelos mercados populares E aquela gente toda estranha a sussurrar uma língua que não é sua O suor do calor de deserto O frio regado a vinho italiano Outro a desafiar nossas barracas carregadas de sonhos O mundo é todo meu mesmo não sendo E deverá ser mais e mais E cada vez mais Nosso, do sonho de viver com asas Até que a saudade não exista mais Tal será o movimento como padrão da existência