Poema herança 2


uma latinidade escorre de mim
antes que eu possa reagir
antes que eu possa desejar reagir
porque não quero fazê-lo
quando ouço essa guitarra

mas essa latinidade quer atravessar o oceano
ela, pacífica e atlântica
que ser também índica
- quando ouve a tabla enlouquecida da divindade -
e amar de perto os mestres
que, de longe, já são seus

ela quer sentir o cheiro das especiarias
lá de onde elas vêm
cortar o quase continente do sul tropical
ao gelo do seu norte
e realizar ásanas de luz sobre a montanha

provar sabores de incenso
sentir os cheiros das povoadas cidades
e do rio tão sagrado e abençoado
encontrar com Shiva em sua morada
e agradecê-lo

simplesmente agradecê-lo

saudar o sol de tanta história
de uma vida sofrida e miserável
que foi capaz de produzir budas
iluminados a nos ensinar que a vida só é dor
porque queremos que ela seja nossa

tem esta terra Sidhu a nos ensinar uma beleza

pra que sejamos fluxo
toquemos o tambor
e aticemos fogo para que o universo se refaça
na dança eterna daquele povo anterior
que amava a natureza
de uma iluminada Índia que resiste

que nos ensina que tudo é feito de amor
que só ele é capaz de tocar a dureza de suas castas
e incentivar a luta por algo mais que apenas o pão
mas pela alegria infinita de sermos todos divinos
filhos do Tantra
luz que irradia luz

a sonhar com as passagens abertas
por um deus elefante
que possa erguer em nossas rodas luminosas
lótus de mil pétalas
luzes resplandecentes de amor universal
prana ativado, canais em ebulição
evocando a união sagrada do corpo
Shiva e Shakti

me encontro em prece
sempre estive lá

Om Namah Shivaya
e parto em direção ao infinito em mim

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