Julho


eis que julho se foi
esse mês imperador
em que meu ego césar se afirmou diante do meu corpo
eis que se foi o julho do suposto fim do mundo
e esse meio do fim despertou a ânsia do agora
mas atravessei a linha do meio
sobrevivi
eu que não me apego mais a santos
que vivo numa Roma pagã
anterior ao peso de carregar um nome-eternidade
minha revolução foi solar em excesso
brilhou dentro de mim tudo que era escuridão
fui abismo
oceano em revolta
quase tropecei
e vejam que aqui saturno retornou faz alguns anos
mas até hoje ele parecia estar completando seu ciclo
daqui a pouco terá chegado o ano temido
teremos viajado
teremos fracassado
teremos tido sucesso
teremos desejado feliz natal
teremos já brindado o fim do ano aguardando mais um carnaval por vir
e o que será de nós?
o que será do mundo que anda tão pequeno e é tão grande?
das pessoas do mundo que andam olhando para o chão?
o solo é para dar firmeza para olharmos para o céu e o horizonte
o que será de todos nós?
mas já não me contorço em querer saber
cheguei perto do tempo
ele me desafiou, me chamou pra batalha
eu fui, olhei nos olhos dele e disse: façamos as pazes
afinal, vc sempre será o meu primeiro companheiro
isso é perene até que se vá, definitivo
o que muda é o que é necessário
o que faz a roda da vida girar
uma carta para o dia: roda da fortuna
não poderia ter sido mais claro
e eu sorrio
o que está em cima
no outro dia está embaixo
fortuna imperatrix mundi
sorrio
e vou calma passear de bicicleta
comprar umas frutas e beber água de côco
ouvir Los Hermanos já sem medo do que revelam suas palavras
pegar aquele velho disco também
do que outrora foi a referência
aquele Radiohead que tanto era melancolia
hoje é a constatação de que a roda gira
então, eu ponho um samba e danço com o vento
convido Paulinho e afirmo com toda a certeza:
não sou eu quem me navega
quem me navega é o mar

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