aos músicos
na intenção de reduzir
a importância das palavras
quem sabe, quase nada mais
um dia, utilizá-las
ainda recorro a elas
que me prendem em celas vazias
mas de que adiantaria...
eu que fujo das regras
é por isso que faço poesia
na fé de encontrar
a brecha onde a palavra
diz mais do que diria
dizê-las,
cada vez mais,
só mesmo de forma poética
poupar a forma pouco estética
de dizer tudo desesperadamente
porque pouco dizem,
as palavras, e mentem
diz mais o silêncio que se instaura
quando o absurdo e o maravilhoso
ganham, no espaço-tempo, aura
mas e a música?
aquela que sai das
almas extasiadas que dedilham cordas,
as arranham como o abrir de olhos
do primeiro instante...
destes que submetem seus corpos
a peles afinadas, agudos indecentes,
seus dedos a teclas de infinito
e àqueles graves instantes do mundo em seu início
seus corações ao dissonante caminho de dizer
sem precisar, a elas, recorrer...
dirá?
dirá a música aquilo que a palavra
se esforça pra reconhecer?
serão, vocês,
almas aladas do universo,
os mensageiros mais perto de deus?
um deus-baco-angélico-imanente?
vocês que conseguem soprar o divino?
comunicá-lo através de um violino?
mas eu ainda recorro a elas,
as palavras,
mas certa de que é a música
que me arrebata
porque é também só ela
que redireciona as palavras
as amplia no canto
as poetiza de uma forma
que nenhuma outra poderia fazer
que dizer fica difícil sem música
quando amo
porque é ela que me lança,
através destes corpos que anunciam,
insaciáveis e amorosos,
o que há além do compreensível
visível do cotidiano