só mais uma poesia contemporânea


que horas são?
uma da manhã?
que importa...
há luzes tantas
meus olhos mal sabem das estrelas
se esbaldam, eles, no excesso
cegam
te quero, penso
tenho fome,
e é tenso
quero água
já são mais de uma da madrugada
e a madrugada tem refinamento
de luz, afinada
de som, exato e diverso
do ruído do meio dia
descanso
que faria eu, se pudesse sair agora
do universo das palavras?
diria: me chama pra sair!
ou eu chamaria,
sairia da rede social,
abriria a porta, escancararia o coração
substituiria o teclado pela pele
e meus dedos seriam mais justos com o universo
solidão, pré-condição?
te digo: cuidado!
fica a dica!
#meucoraçãoémaisqueumteclado
o chão brilha
a cidade dorme, em boa parte
restam os homens de boa vontade
que circulam pela noite enluarada.
meus pés cansados procuram abrigo
numa água quente, num pé quente,
no estio, um estilo;
e ouço quem diga: beijo, me liga...
do outro lado da rua uma alma semi nua
comporia bem na casa que decoro
ela diria: adooooro!
e eu encararia com olhar semi nu a perguntar
o quanto adorar com tanto “o” pode significar
mas é curiosa essa contemporaneidade
essa pós-modernidade adocicada
essa gente perdida no meio de si
um encantamento pelo concreto...
enganam-se elas: é metafísico
muitas janelas, todas fechadas,
para os muros, voltadas
espaços da verdade
eu-objeto
meu minimalismo os exalta
exceto os buracos que separam as alegrias
nas paredes dos prédios
eu-dejeto
de que serve um ser humano que não sabe ser máquina?
pergunta o bancário, o banqueiro, o porteiro, o batista
pergunta o político, o cara que não soube ser artista
a moça hipnotizada que espera o príncipe encantado
pergunto eu
mas é por isso que o teclado é instrumento
é por isso que a rede é social por dentro
meu corpo é bandido
o que mais o carrega, é pela tela apenas disparado
nunca sentido
pode ser por ela provocado,
estudado, pela arte estimulado
mas meu corpo é bandido
se deixa levar mesmo é por um sorriso
e nesse mundo de cheiros e prantos
pergunta ele: como é possível um encontro?
que força faz com que
entre tantos
encontram-se determinados corpos,
certas vertigens,
colidam-se os corações ... !?
sabemos tanto...
sabemos tudo.
temos o Google!
mas esse mundo contemporâneo
com a graça do divino espírito santo
(da diversidade)
não conseguiu resolver o mistério de sempre:
que a vida, esteja ela no tempo passado,
futuro ou presente,
é força estranha, loucura boa,
o inexplicável fascinante do existente

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