Espreguicei no silêncio, A alma repleta de sábado. Respirava fundo, Sentia o cheiro de luz. A madrugada, úmida, Tinha som de marolas E de grilos preguiçosos. Lá, extasiada, fui convertida À igreja do corpo E das memórias perdidas. Acharam-se, elas, numa lua escondida Num céu de nuvens-bálsamo Encoberto pela escuridão. Cresci um tanto de centímetros Nos sonhos. Hoje, eles alcançam O longe das planícies. Atravessam montanhas, Correm junto aos rios, E se metem a querer ser o oceano. Tão largos, sagrados e santos! Vez em quando fingem ser coqueiros E deixam suas folhas serenas balançarem Como se fossem os cabelos de Deus. Alonguei no horizonte. Estava escuro. Eu via tudo... A alma repleta!
anunciou-se um corpo o meu próprio relembrou seu ópio pedi-me atenção lançada estou mais uma vez no poço sem fundo da alma essa inexistência exata que me cala a exata existência como há um, dois anos talvez? quem sabe alguns meses quem sabe... quem sabe o que trazemos conosco e que nos torna nós mesmos? mas que melhor momento para uma virada! estes, em que não sabemos nada... quando o que nos é revelado, apenas pela intuição pode ser conquistado se sei do líquido raso que é meu sangue tão infame e próprio à densidade alheia é porque sei da imensa profundidade da pele e sinto o rombo do corpo sutil maltratado o tombo de dentro de mim mesma deslocada lá onde só a poesia é a composição certa de palavras e irmã dessa poética palavra a música é também ela capaz de reconhecer a suada alma despedaçada e com tanto ainda por viver densidade em ser por um lado, brisa por outro, ansiedade velho e conhecido exercício o de equilibrá-las pois nasc...
Existe poesia na rotina? digam aí. eu só vejo poesia! ---- Toca o despertador. Acordo. Não entendo o que está acontecendo. Disparo o soneca do celular. Ontem dormi um pouco tarde. Foi inevitável. Senti o cheiro da pele e do cabelo, pé no pé, chuvinha lá fora, o calor do corpo dele do meu lado. Gozei e perdi o sono. Falamos da vida, tivemos idéias esquisitas, rimos muito disso. Ele dormiu, eu fiquei pensando em qualquer coisa, peguei um livro, Pessoa, Saramago, Tantra, Eram os Deuses Astronautas... tanto faz. Era um livro que eu gostava. Dormi. O soneca dispara a cada cinco minutos. Não consigo configurar pra dez. Levanto e vou fazer xixi. Vejo minhas olheiras no espelho. Vou ao quarto dar um beijo no rosto dele enquanto ainda dorme e fecho a porta. Nado, faço yoga. Volto. Fazemos café, vitamina com frutas, quinua, linhaça e leite de soja. A gente se beija, se abraça e come pão integral com manteiga. Vejo o que se passa na TV. Notícias de furacões, terremotos, maremotos, Mais Você,...