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Mostrando postagens de 2013

feliz-cidade

estranha palavra felicidade (tente soletrá-la) que só o tempo (para alguns?) é capaz de fazer b r o t a R não posso dizer que hoje sei dessa tal F-E-L-I-C-I-D-A-D-E uma curiosa cidade difícil de habitar tão                                                      distante... não se costuma chegar lá (estrada looo o o   o   oo  o n g a e acidentada) mas algo, em mim, FALA e algo em mim é capaz, hoje, de escutar! não sei se isto significa que, finalmente, depois de tanto espanto eu descobri o que é AMAR! algumas palavras anunciam na placa: perigo! mas se sequer me importo  - visto a novidade que é a falta do espanto -  então, talvez, SEJA! perigo só é perigo quando a gente, assim                                                deseja... (perigo!) porque autômatos repetimos o que já sabemos, pois VEJA perigo só é perigo quando não há chance de tudo ser diferente e HOJE eu

filme de Almodóvar

chove e me atravessa um cheiro de café entonteço... acendem um cigarro e o cheiro do café e o trago me trazem a lembrança daquela viagem entonteço... trabalho... e eu quase poderia ser uma mulher à beira de um ataque de nervos chove tenho fome e penso o óbvio estou cansada trabalho, ensaio, entonteço... queria a carne trêmula a desvendar a flor do meu segredo o cheiro do café... a chuva a memória nenhum desespero mas todo o desejo entonteço... trabalho o cheiro do café o cheiro do cigarro está cinza o vento é frio por hoje chega necessito um vermelho é que chega uma hora em que o corpo desaba e a pele que habito pede um basta tenho fome... paro e desato penso o óbvio abrir um vinho fazer um macarrão e no labirinto da minha paixão me esquecer a ver um filme de Almodóvar entonteço...

cartas

relendo as cartas que escrevi pra ti faz tempo era vento que soprava leve a angústia dos meus sentidos aquela luz ecoava tempo incerto que se foi e, perdido, não é mais que palavra eternizada no papel meu véu já não esconde mais teu rosto foi-se o tempo em que eu era tua aurora sou, em tempo, uma nova espécie de agora

o vento do tempo

faz pouco tempo um vento, carregando o futuro, entrou pelo meu quarto era um vento forte que fez voar as fotos e carregava a sorte vinha de longe muito mais longe que do mar e da montanha vinha do tempo e de suas entranhas vinha do tempo, o vento, do que se anuncia e já, tão meu, me enche de alegria faz pouco tempo, um vento entrou pelo meu quarto e, no meu ouvido, sem tempo, sussurrou o seu rastro

Felicidade e nada mais

É sexta-feira à noite, e estou em casa, cansada e feliz, alegre por que amanhã, sábado, não terei hora pra acordar, o que não significa que não terei o que fazer... Como tenho! E por isso também me sinto feliz. São coisas que eu escolhi, porque elas me escolheram. Amor! E algumas (menos) que não escolhi, mas que já entendi que é necessário vivê-las porque elas têm algo a me ensinar. E uma coisa me anima nesse instante: escrever sobre a felicidade. Venho refletindo bastante sobre essa coisa que persegue a humanidade, e que perseguimos como um tesouro e, de tanto perseguir obsessivamente, acabamos por encontrar qualquer coisa, menos a tal da felicidade. Mas hoje estou sentindo algo que se aproxima ao que chamo de felicidade. Então é sobre isso que minha mente inquieta junto aos meus dedos frenéticos a procura das teclas do computador estão querendo escrever. Não realizei nesta vida o que já foi um dos meus sonhos, ser pianista (sonho que talvez nem exista mais, já que outros falam t

Àquela que se perdeu

basta todo jogo pálido toda cena estúpida chega desse jogo barato pareces não saber mais como se vive... mostra a cara limpa e deixe tudo claro isso é raro? cansada de toda farsa esquálida escarro no teu rosto inválido a fome de viver escarro em tua alma morta que esqueceu o que é paixão o meu tesão bandido em viver que triste tu és alma pequena que sequer consegue murmurar desejos tu que teces fios sórdidos pensas que não vejo!? estou de olho na forma como costuras e tenho pena de ti tu que sofres e sequer se olhas tu que levaste da vida porrada ácida agora e nem assim tenho pena de ti mas esqueço porque não tens por si mais nenhum apreço e grande é meu desejo de sair por esse mundo a alimentar música, poesia e o beijo mais doce e quente que já conheci um dia sabe quando um homem te arrepia? acho que tu já esqueceste... talvez haja tempo que ninguém lhe beije tenho pena de ti e digo a paixão dá sentido se esqueceste de si m

presente

na poesia dos teus gestos hei de ser, ainda mais, a beleza do verso na poesia do teu contra-verso hei de ser diamante submerso

música nova

se eu fizesse uma música agora teria, ela, cheiro de futuro e uma única saudade a que ainda está por vir se eu fizesse uma música agora seria calma, alta e misteriosa e voaria sobre os Alpes seria música nova incabível no passado solitária e silenciosa e não haveria qualquer nota como se o corpo reconhecesse apenas pulso nesse instante se eu fizesse uma música agora... ela não seria minha, do que ainda reconheço mas de quem não sei quem sou e criaria a própria música como se fosse a música primeira que criou a humanidade se eu fizesse uma música agora eu sequer saberia que era minha ela teria cheiro de começo e me revelaria o estranhamento que hoje sou se eu fizesse uma música agora seria a própria música cósmica a voz de Deus a ecoar sobre o vazio e não apenas seria música nova que nasceria rasgando, indisfarçável ela seria, antes, nesse momento doloroso e mágico, intocável

através do espelho

maldito espelho o outro maldita palavra alheia que me revela e rasga minha veia saturada de passado a metamorfose não é bela pode-se morrer nela e se perder, para sempre, lagarta no casulo é doloroso fazer nascer um corpo novo quando já se está tão conformado no existente no entanto, há êxtase em perceber onde se conforma e já, deforma maldito espelho que é o outro maravilhoso que me revela onde falho tanto quanto onde encaixo bendito espelho cristalino como música barroca eleva o espírito e me lança no abismo maldito espelho que revela minha fraqueza bendito seja!

ativa espera

a palavra me salva me amarra a palavra aperta o amor desperta busco a palavra certa como busco o amor liberto e é na sua agudeza que me embebedo de beleza como se casco de árvore eu fosse e escorresse feito seiva doce e derretesse, amálgama do objeto e explodisse, expansão do incerto a palavra pouca o amor que é verbo amor que se tem certo mas parece não ter cumprido ainda sua caminhada no deserto ando tateando a procura do verso mais profundo... e me desloco de encontro, em desejo quem sabe esteja ele a minha frente e ainda não vejo pois sinto uma brisa... mas não sei ao certo o que ela diz sobre a vida sei que traz auroras e me responde certas inquietudes do agora e, assim, tateando, talvez encontrem, minhas mãos, em suave conflito, a textura do infinito e a palavra certa! tanto quanto o amor que liberta como música exata, ou poesia, que esperaria o tempo que fosse pra nascer e nasceria

Poema alado

lanço flores para ressaltar a beleza das rotas dos encontros e expressar a delicadeza necessária em tempos cansados do planeta lanço-as para dar leveza a pesos desnecessários a vida é foda mas é fácil e me pisca o olho de um deus na cumplicidade de uma certeza: o que vem do coração jamais pode estar errado o que se faz com amor é sempre um poema alado

Poemas de aeroporto

Sexta, aeroporto Santos Dumont então, fez-se luz! e, logo depois, verbo! e Deus criou o homem e a mulher. e criou o paraíso, onde plantou sonhos, música e delírio. e fez-se o tempo. e homem e mulher passaram a ter razão para viver o paraíso ao máximo! mas o homem inventou o trabalho... Deus, refletindo o por quê daquele ato, até achou que alguns trabalhos valiam a pena... em tempo, não pensou duas vezes: para ajudar homem e mulher, sendo camarada e gente fina, eis que Deus criou, então, a cafeína! --- o mundo, esse ovo curioso e fecundo a vida, essa coisa doida varrida --- no instante seguinte em que lanço a palavra, dela já me desapego não a nego mas ela sai como escarro ou beijo e assim, lançada no mundo, de mim, torna-se apenas lampejo a palavra só tem peso se a quisermos desejo

Do desejo e do desapego

Pequenos momentos podem ser grandes momentos, quando capazes de ampliar a vida, de torná-la mais bonita e mais leve. E talvez sejam os pequenos momentos os que mais deem sentido à vida. Um abraço, um cafuné, um bom café, uma boa noite de sexo, encontros, reencontros, olhares, fazer uma comida pra quem se gosta, oferecer e receber ouvido, atenção, colo, flores, ter aquela conversa, beber um vinho, conseguir fechar um trabalho, iniciar um, pegar um avião, saltar do avião, chegar num lugar desconhecido, chegar num lugar que se ama. É no dia a dia que as coisas se consolidam, que a intuição tem espaço, que se constrói e se destrói. É no cotidiano, na necessidade de viver o que a vida nos coloca como nosso, que temos a chance de aplicar conhecimentos, teorias, juntar práticas, organizar, reorganizar, desorganizar. É no dia a dia que dimensões fundamentais da vida ganham espaço, como o cuidado, a atenção, a relação entre o que somos e o que é o outro e o mundo. Os grandes acontecimentos são

desabafo apaixonado

este texto foi deletado para dar lugar a asas de borboleta agora ele quer voar para onde a palavra não cresça

o olho do universo

estou em prece largada ao chão a contemplar o que não descrevo apenas sinto o chão é gelado e meu amor é chama consistente o olho do universo ilumina minha varanda observando meus movimentos como se soubesse o que penso e como se compartilhasse dos meus anseios e, cúmplice, atestasse o meu desejo sobre a minha bicicleta, a lua cheia, que sabe que dela nunca me canso o som de um solo de les paul me arrasta pra longe e eu poderia chegar agora onde jamais estive antes assim, tão carregada de futuro... escrevo e o céu é de um negro profundo que arrepia os sonhos mais bonitos chega a doer no peito tamanha beleza e meu silêncio é uma reza em agradecimento pois a lua cheia no alto do céu anuncia novos dias anuncia um despertar e as nuvens de cores camufladas que circulam em torno dela e logo atrás, a montanha, vista da janela dizem do meu corpo a querer ser pássaro queria eu, agora, estar lá perto a olhar bem dentro do olho do universo é fácil ser fe

poesia de família

os poemas dedicados à família! --- do corpo uno aos meus pais vocês, que me conceberam... são também o meu corpo! está no meu sangue o código  que vem de gerações antigas do homo sapiens aos nossos patrícios seu pereira e sr. vieira cristo outros de nome desconhecido... mas são vocês que estão na minha pele! de que importa o sangue? importa a relação viscosa  do amor de pai e mãe a torcida calorosa na arquibancada da vida aquele beijo dado no saguão do aeroporto enchendo de lágrima a despedida tão “desnecessária”  porque logo viria o retorno aquele semblante de cansaço... e eu chegava com o cheiro de álcool aquela voz levantada com o medo aquele frio na espinha quando chegou em mim o desejo e então, aquele olhar aquele que revela uma galáxia  de quem carrega o coração fora de si ninguém será capaz de me dizer que tal sensação valiosa é essa que nos torna do outro, um só  com nosso corpo saberei

jogo de palavras

errante solidão do corpo sólido causa anseio calmo possível fosse gloriosa saudação do etéreo gélido busco antigo salmo num caminho doce

o pêndulo e o poço

quando inflama um corpo e a mente reclama, insolente, divergente pra um lado o corpo, pro outro lado a mente, o mundo pede calma mas o que se faz com o que não se alma e com aquilo que se alma até demais? quando inflama um corpo, inflama! e nada mais a mente tenta anuviar nubla a memória dispersa a história libera palavras que tentam racionalizar mas quando inflama um corpo, inflama! e não há como disfarçar a mente briga com o corpo e relativiza o tempo esse que corre, oferece, tira e devolve... sem chance pra lamento tola mente! porque a memória tem cheiro... voz, carne, osso sonhos, desejos e desespero e vira e mexe a memória vira carne de novo e a memória tem beijo assim, inflama o corpo e ri na cara da mente mas, insolente, lhe olha a mente e ri do corpo que se alma mas se mente é a ideia do corpo mente a mente para o próprio corpo? apenas sei que inflama, o corpo... em abraços longos que liberam fagulhas revelando o que não foi d

Pitta

Eu me consumo Não me importo em morrer Minha chama é daquelas que renascem Ave mitológica Procuro sempre por aquilo que me inflame Nasci sob a configuração da combustão

O tempo

O tempo é uma das questões que mais me me tomam tempo nessa vida, como questão prática e simultaneamente filosófica. E a relação com o tempo, é sempre uma relação conflituosa para mim (mas que relação não é conflito, me pergunto... conflito é bom!). Tudo o que faço, ou melhor, tudo o que escolhi para me dedicar (ou que me escolheu) faço com intensidade, e fico sempre com aquela sensação de que me falta tempo, porque, teoricamente, eu precisaria de mais tempo para fazer mais e melhor (neurose minha). Mas essa é uma sensação de quase todo mundo hoje, pois vivemos bombardeados por informações, ofertas e convites. Achar que vamos dar conta de tudo é um erro para o sistema nervoso, e para a consolidação do que deve ser feito. Pois o que não nos falta é tempo. Talvez falte é concentração, foco naquilo que escolhemos como prioritário na vida. No entanto, embora tempo não seja desculpa quando queremos alguma coisa de verdade, não há tempo a perder. Porque a vida passa rapidinho... O ruim é qu

I Ching - um poema para tempos ruidosos

recolher-se em si aquietar-se é tempo de lapidar os diamantes na sala escura dos homens, distante para uma luz brilhar sem ferir os olhos é necessário um trabalho árduo sensível, cauteloso por vezes, solitário nada sabemos do que somos enquanto tudo proclamamos como sábios no poço fundo, caem nossas verdades para o florescimento é preciso devoção! para o renascimento, a observação retirar-se momentaneamente para reorganizar-se é tempo de balanço! para que seja triunfal a descida da montanha move-se o universo em favor quando uma estrela se enche de luz internamente virá, no exato momento, do fundo do poço, do abismo da alma-corpo, aquela que mata a sede por isso, o agora é o tempo da reforma, da obra de revestir-se para a transformação íntima e não se pode utilizar um poço enquanto ele está sendo revestido este trabalho, no entanto, não é em vão graças a ele, a água permanece límpida

tantra

será, a minha poesia, a chama para queimar o incenso do mundo na realidade que construo com a palavra transformar a pedra em ouro, o vazio no som primordial nuvem que atravesso num jato deixando o meu rastro como lençol de seda que estendo para dormir o sono exato do planeta e acordar inteira carregando, da vida, no meu ventre, a tua saga meu corpo é um templo! encontre nele a tua tessitura, universo pratique aqui, a tua união, onde pulsa o sexo e mora a divindade sou folha branca de papel para que escrevas o teu verso

um ano depois...

Escrever é um vicio terrível, daqueles quase incontroláveis, químicos. Dá trabalho, cansa, me faz dormir tarde demais (porque quando começo só consigo parar quando sinto que o texto, como uma gestalt, se fechou...). Mas eu não sei viver sem... Porque é também a minha forma de digerir e processar as coisas. Sempre que o cotidiano fica denso demais, é escrevendo que consigo ficar mais leve. Pois bem, o momento agora é um desses momentos densos. E eu, como de praxe, também uso os textos como confissões e pedidos de ajuda, uma forma de afirmar para o meu ego de ascendente leonino que sou humana demasiado humana e pedir uma ajuda ao universo. Fico impressionada em perceber como as coisas acontecem rápido na minha vida. Tudo muda o tempo todo. Claro que há os momentos de calmaria, ou eu não aguentaria. E quando falo de mudanças, não se trata de mudanças radicais o tempo inteiro, mas daquele permanente movimento que te faz mudar de perspectiva sobre os fatos por conta de pequenos (e nada
o corpo nada sabe das palavras ele apenas vive... como cheiro, gesto, carne mas escrevo versos para criar realidade vive, no corpo, a palavra poética ganha a palavra, no corpo, métrica

novos poemas encontrados num caderno

o estranhamento no espelho nessa hora da madrugada não houve sono posso dizer que não houve nada estranhamento de si... do meu rosto, que tanto reconheço no silêncio e houve tanto barulho essa madrugada... mas que importa o sono que importa o sonho... queria eu apenas o gosto da calmaria no meu coração sem dono mas sou sempre caos e no caos me reconheço? não... eu sou silêncio e na solidão me reconheço no amanhecer do sono pouco, na garrafa de vinho, o gosto... no espelho o questionamento enquanto uns dormem outros festejam sou silêncio e me deparo com o meu tempo e interrogo o meu desejo no fundo, só temos a nós mesmos e por mais alegria que seja toda gente que por minha vida passa e mesmo com o mar onde a conversa nunca é rasa... é por isso que é preciso ir a ele pois é nele que me reconheço é por isso que é preciso degustar o vinho sempre pois no vinho me reconheço presente e no silêncio novamente apenas com a música interior e não aquela dessa noite de sono tão pouco de acordes tã

filosofia corpórea

eis um mistério: o que fazer com o corpo e aquilo que nele nasce após um acontecimento o que fazer com o que fica dentro parte nova a integrar o corpo, que, pelo que se deu, torna-se novo o que fazer com o corpo... tomado ele de torpor e encantamento? e de tudo que vem com o tempo o que fazer com o corpo depois do acontecido, e com o volume que lhe toma, e até então, lhe era desconhecido o que fazer com a densidade de uma nova informação? e tudo o que não se sabe e o que se deseja de um encontro e toda a densidade do outro que lhe soprou o outono... mas muda o corpo a todo instante posto que é errante é preciso acostumar-se ao novo e ao estômago do mundo onde nos lança cada acontecimento profundo.

blackbird

que nome eu poderia ter agora? pergunto a mim mesma diante do espelho das horas eu... uma gama de histórias ainda não contadas poemas guardados que precisam de tempo para serem revelados a multiplicidade do desejo e um desejo que confunde o que eu vejo a ansiedade de querer, com os braços, envolver o mundo inteiro mas é que agora, caiu a moldura chegou a hora das batalhas mais duras: as de enfrentar os grandes medos porém, calma estou porque já os conheço e é preciso coragem para se olhar no espelho calma estou para iniciar o que deve ser feito é preciso foco, ar, é preciso jeito disciplina é liberdade eu ouvi há muitos anos e guardei como mantra na caixa daquilo que não explicamos apenas voando é que sabemos que ela existe, a liberdade, e que insiste sou então, nesta hora, um pássaro que deixou a gaiola no eterno retorno de romper e me reconstruir na aurora novamente identificando minha delicadeza que recupero depois de tanta fina dureza

canto

fez-se calma minha ansiedade que à luz palpitava fez-se silêncio, então, o que sedento pulsava fez-se o tempo... aquietou-se o campo esplendorou-se o vento atravessei flores a tomar chá de jasmim, pensava e busquei, dentro de mim, a harmonia do mundo que dançava atravessei pilotis senti aquecer, o sol, meu rosto e cruzei imensas estradas encarando o meu desgosto havia fome, frio, poço havia... arco para cruzar debaixo sem saber o que haveria, oposto se fundo ou raso mas revelou, caminho novo, o fim da estrada cheiro de incenso raro e novos livros foram postos abrindo segredos nas minhas mãos novas folhas de papel em branco novas tintas, novos tons e veio, ela, a voz luzente a espalhar semente que emociona multiplicando em cada célula do meu corpo o canto alegria inefável que cala todo o meu pranto

aceito

aceito dica de bolo filosofia pra queimar o miolo uma taça de vinho um caliente carinho banho de chuva mesmo no frio loucura na rua poesia sem rima aceito um doce um sonho um sentido uma música nova um novo vestido flores, festas, cervejas gente que ama comida na mesa projeto de vida projeto de um dia criança na praça domingo preguiça aceito tristeza pra lembrar da alegria mas aceito alegria pra ganhar o dia aceito nesse frio, um cafuné aquele pé pra esquentar meu pé um filme qualquer só pra ficar de bobeira aceito quem me diga como se faz uma cadeira só porque não sei fazer sou dessas aceito viver

as veias da cidade

minha poesia tem fome como fome tem um beijo e percorre as veias da cidade tem aura minha poesia e preenche os espaços vazios do porto e do meu silêncio diante da paisagem como sangue tem meu corpo como lua tem hoje o céu do Rio de Janeiro eu me beiro nessa noite clara, de estrelas nessa noite densa, de sonho como o sonho de uma noite de verão mas é outonal o céu carioca, de lua abissal, que vejo da janela do carro como se carro fosse o meu desejo e pudesse me levar onde agora festejo... onde também a lua é vista e a vista é a pura poesia do que vejo tem música essa metrópole, do alto, do asfalto, da ladeira que o percurso toma, dos arcos visíveis do bar que imprimiu um cheiro como a minha poesia, percorre o táxi, as veias da cidade e um torpor circula pelo meu sangue e invade as veias porque não pode senão, invadi-las, e torná-las arte atravesso a cidade me atravesso e atravessa meu corpo um ar frio carregado de futuro do cristo à flore

poema distraído

hoje eu acordei desperta! não havia sol... ...mas havia a clave no meu corpo ainda hoje eu acordei um tanto leve um tanto perdida numa música numa ilha com nome e sobrenome hoje acordei sem pressa, sem trabalho, sem espera, sem ferida, sem expectativa... mas com o sangue reverberando um perfume, um tato de mãos sonoras provocadoras de lume hoje acordei um tanto distraída, quase sem perceber... que acordei pensando em você

só mais uma poesia contemporânea

que horas são? uma da manhã? que importa... há luzes tantas meus olhos mal sabem das estrelas se esbaldam, eles, no excesso cegam te quero, penso tenho fome, e é tenso quero água já são mais de uma da madrugada e a madrugada tem refinamento de luz, afinada de som, exato e diverso do ruído do meio dia descanso que faria eu, se pudesse sair agora do universo das palavras? diria: me chama pra sair! ou eu chamaria, sairia da rede social, abriria a porta, escancararia o coração substituiria o teclado pela pele e meus dedos seriam mais justos com o universo solidão, pré-condição? te digo: cuidado! fica a dica! #meucoraçãoémaisqueumteclado o chão brilha a cidade dorme, em boa parte restam os homens de boa vontade que circulam pela noite enluarada. meus pés cansados procuram abrigo numa água quente, num pé quente, no estio, um estilo; e ouço quem diga: beijo, me liga... do outro lado da rua uma alma semi nua comporia bem na casa que decoro ela diria: ado

poema dos pequenos gestos

apertar um botão um aperto de mão sorrir, simplesmente partir, de repente jogar uma semente uma cerveja que compõe com o que se sente uma dobra num papel retirar um véu um acorde não me acorde a porta quando tu entrares a sutil conversa dos olhares

o som e o silêncio

é no momento do silêncio, entre uma nota e outra, que meu corpo retoma, na voz, o seu desejo e deixa nele ecoar o corpo do outro ...e o ensejo é no momento do silêncio, quando respiro e sustento, que meu coração se revela, e entregue, forasteiro, ressoa nele todo o seu intento... ...e vibra inteiro é no momento do silêncio, quando as passagens se dão, que me conecto mais fundo... ainda que por um segundo, e este precioso instante produz meu diamante: tudo o que carrego de mais intenso em mim se lança no universo pela voz para semear estrelas e colher amplas ressonâncias no mundo sem fim das coisas sonoras produzindo as reticências que o meu canto põe ao fim de cada tempo para ampliar o espaço de todo e qualquer lamento para ampliar o dia a toda e qualquer alegria

anunciação

anunciou-se um corpo o meu próprio relembrou seu ópio pedi-me atenção lançada estou mais uma vez no poço sem fundo da alma essa inexistência exata que me cala a exata existência como há um, dois anos talvez? quem sabe alguns meses quem sabe... quem sabe o que trazemos conosco e que nos torna nós mesmos? mas que melhor momento para uma virada! estes, em que não sabemos nada... quando o que nos é revelado, apenas pela intuição pode ser conquistado se sei do líquido raso que é meu sangue tão infame e próprio à densidade alheia é porque sei da imensa profundidade da pele e sinto o rombo do corpo sutil maltratado o tombo de dentro de mim mesma deslocada lá onde só a poesia é a composição certa de palavras e irmã dessa poética palavra a música é também ela capaz de reconhecer a suada alma despedaçada e com tanto ainda por viver densidade em ser por um lado, brisa por outro, ansiedade velho e conhecido exercício o de equilibrá-las pois nasc

ensaio de orquestra

eu esperava aquela nota lá pra relaxar mas ressoou o si bemol menor do meu cronograma pisquei e lá se foi a semana anunciam os sopros uma nova sexta-feira tinha para mim uma orquestra inteira mas falou alto a matemática do cálculo não poderia me dar o luxo de um descanso ao menos me sussurrou o universo ele não está manso muito menos piano mas a um mês da ação, me lembro passará a solidão da produção, no seu tempo, e ficará somente ela, errante, para quem o meu corpo produz, aquela que exata, mesmo quando dissonante ficará meu corpo, exausto e feliz, e o coração por um triz... já vi esse filme antes!

poema agridoce

o amargo diluiu-se no doce e fez molho agridoce para minha carne ela, antes endurecida, amaciou-se tornou-se mais doce deixou cair sobre si o mel daquela outra carne quando sorri